O projeto da cooperação portuguesa Quinta Portugal, de apoio em Timor-Leste ao desenvolvimento agroflorestal, do café e de algumas culturas alimentares, desenvolvido em Aileu, assinala este ano 25 anos de existência.
“São 25 anos a apoiar o desenvolvimento do setor agroflorestal, do café e de algumas culturas alimentares e também a capacitar dezenas de técnicos timorenses e alguns técnicos portugueses. Muita gente passou por aqui, pessoas que agora têm outras responsabilidades e alguns que ainda se mantêm ligados à agricultura”, afirmou em entrevista à lusa Hugo Trindade, coordenador do projeto.
Na Quinta Portugal capacitam-se agricultores, técnicos nacionais em práticas agrícolas, sobretudo no sistema agroflorestal onde a cultura do café é dominante, e acompanha-se as comunidades agrícolas de Aileu, situada a cerca de 47 quilómetros a sul de Díli.
O projeto começou em dezembro de 1999 com o Padre Vítor Milícias, como comissário nacional para apoio à transição em Timor-Leste, tendo continuado mais tarde com o antigo Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) e prosseguido com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
“Na altura, foi também iniciado outro em Ermera, que, entretanto, passou para a gestão do Estado timorense. Este mantém-se gerido e apoiado pela cooperação portuguesa” em parceria com o Ministério da Agricultura timorense e a Universidade de Lisboa, explicou Hugo Trindade, agrónomo, especializado em culturas tropicais.
“Aqui nós temos campos de demonstração, de pesquisa, temos viveiros de produção de plantas para apoiar no trabalho que temos de apoio à reabilitação e diversificação das plantações dos agricultores”, descreveu.
Ou seja, a Quinta Portugal desenvolve, no âmbito do projeto, culturas florestais que possam ser introduzidas no sistema agroflorestal timorense, incluindo árvores de fruto e culturas industriais, como as especiarias.
“Disponibilizamos a quem tenha interesse em instalá-las e damos aconselhamento técnico e instruções de como pode instalar as culturas no sistema, de forma a diversificar as plantações e, dessa forma, aumentar o rendimento”, disse Hugo Trindade.
Também se capacitam investigadores timorenses do Ministério da Agricultura na cultura do café, principalmente no controlo da ferrugem, doença que pode afetar e destruir os arbustos do café, disse o agrónomo português.
Questionado sobre o impacto do projeto junto dos agricultores timorenses, Hugo Trindade explicou que há agricultores de várias partes do território timorense a aplicar as práticas apreendidas no âmbito do projeto.
“Também temos bons exemplos que nós estamos a conseguir apoiar aqui no município [Aileu] e inclusivamente utilizamos esses bons exemplos como local de visita aos agricultores que estamos a capacitar de novo”, disse Hugo Trindade.
“Assim podem ver que não é só no centro que estas práticas podem resultar, mas que outros agricultores com meios e capacidades próximas às deles conseguem também, através do conhecimento que nós passamos, melhorar as plantações”, salientou.
A qualidade do café de Timor é reconhecida internacionalmente, o que faz com que os compradores querem mais quantidades, mas a produção é pequena e não responde à procura, como afirmou recentemente o vice-presidente da Associação de Café de Timor-Leste, Afonso de Oliveira, lamentando a falta de investimento do Governo no setor.
“Os compradores estão a pedir mais quantidade e não temos”, lamentou, em entrevista Lusa, Afonso Oliveira.
Anualmente são exportadas entre seis e nove mil toneladas de café, o que representa um “rendimento anual para os cofres do Estado de entre 25 e 30 milhões de dólares” (entre 23,4 e 28 milhões de euros), segundo dados da Associação de Café de Timor-Leste (ACT), disse o seu vice-presidente.