“Ides pró campo à hora de vir!”, dizia a minha avó Esperança. Lembrei-me dela mais uma vez ao percorrer o meu arquivo de fotos, porque tenho muitas fotos do pôr do sol.
E porque vou “para o campo à hora de vir”? De uma forma resumida, a resposta pode ser “porque posso e porque quero”, uma expressão partilhada há dias por um avô que sigo nas redes sociais (que se mete frequentemente em polémicas por causa de frases como esta, sempre que o assunto não são as fotos dos netos) e que deu esta frase como um exemplo de boa resposta para quando queremos dizer a verdade sem dar muitas explicações. Mas eu quero dar algumas essas explicações e por isso vou usar a frase como mote.
Porque posso? Porque, ao contrário da minha avó que nasceu no início do século XX e ia para o campo num carro de vacas com uma sachola e uma foicinha ou foucinhão (foucinhão é aquela coisa que a geração da minha avó usava para cortar erva e a geração Z só conhece das brincadeiras do halloween ou do carnaval), eu vou para o campo num trator com cabine, sem apanhar frio e com boa iluminação fazer trabalhos com máquinas. E também posso porque, ao contrário da minha avó e dos meus pais, não tenho que voltar ao fim da tarde para fazer a ordenha das vacas, porque tenho um “robô” de ordenha a trabalhar há 12 anos. É sempre preciso acompanhar e tocar alguma vaca atrasada, mas é um trabalho mais leve e mais rápido do que a ordenha tradicional, manual ou com máquinas, por isso posso aproveitar o fim da tarde noutras atividades.
Porque quero? Porque, como li há muito tempo num cartoon de uma revista agrícola, “gosto da liberdade que a agricultura me dá, com licença do banco e do governo posso fazer tudo o que quero”. Isto para dizer que, apesar das regras que quem nos governa nos vai impondo cada vez mais, umas vezes com boa intenção, outras vezes com intenções que temos de enfrentar e muitas vezes a complicar, apesar de tudo, a atividade agrícola, sobretudo de quem trabalha por conta própria, é uma atividade livre em que podemos fazer escolhas. E eu escolho muitas vezes “ir para o campo à hora de vir”, mas não demoro muito, não fico lá toda a noite e escolho voltar a casa a horas decentes para jantar, ou “cear”, como dizia a minha avó, que almoçava de manhã, jantava ao meio dia e “ceava” à noite. #carlosnevesagricultor #pordosol #agricultura
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.