A 2 de fevereiro assinala-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas. “Proteger as zonas húmidas para o nosso futuro comum” é o tema escolhido, em 2025, para nos recordar que o futuro comum e o bem-estar da humanidade dependem de conseguirmos valorizar e proteger estes ecossistemas vitais. O mesmo tema estará em foco na 15.ª conferência dos países signatários da Convenção Ramsar (COP 15), de 23 a 31 de julho, no Zimbabué.
Adotada como Tratado Internacional a 2 de fevereiro de 1971, em Ramsar (Irão), nas margens do mar Cáspio, a Convenção Ramsar foi o primeiro acordo moderno multilateral sobre ambiente e o único que se dedica a um ecossistema específico – as zonas húmidas, que englobam tanto áreas costeiras de água salgada como zonas interiores de água doce, permanentes e temporárias.
O dia 2 de fevereiro começou a ser assinalado logo na década de 70 (século XX), mas foi já no século XXI que as Nações Unidas o declararam Dia Mundial das Zonas Húmidas. Em 2025, 172 países – subscritores desta Convenção – assinalam a data, assumindo o seu empenho na conservação e uso racional e sustentável das zonas húmidas classificadas nos seus territórios.
Com o objetivo de sensibilizar a população para a importância das zonas húmidas e de as proteger, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e Florestas revela que 35% destes ecossistemas se perderam globalmente desde 1970 (percentagem que se eleva a mais de 85% se recuarmos a 1700) e que uma em cada três espécies de água doce, assim como 25% de todas as espécies das zonas húmidas enfrentam a extinção, devido à deterioração destas zonas.
O relatório Ramsar mais recente (de 2021, elaborado nos 50 anos da Convenção) indica que as zonas húmidas estão a desaparecer a um ritmo três vezes superior ao das florestas. Recorde-se que a presença de florestas em zonas húmidas, principalmente em zonas de água doce (cursos de água, lagoas, albufeiras, entre outras) é um fator que influencia a disponibilidade da água e a sua qualidade, uma vez que as árvores promovem a circulação, filtração e purificação da água, nomeadamente da água para consumo humano.
A perda de zonas húmidas é atribuída principalmente à sua conversão em áreas agrícolas e o relatório alerta também para os efeitos das alterações climáticas, com consequências mais rápidas do que se antecipava. Refira-se que a preservação e restauro destes ecossistemas é crítica na luta contra as alterações climáticas sob diversas perspetivas. Por exemplo, sob as águas de mangais, turfeiras e pauis estão armazenadas grandes quantidades de gases com efeitos de estufa – incluindo carbono e metano – que são libertados para a atmosfera à medida que estas zonas se perdem (alimentando a subida da temperatura); e os rios e outras zonas húmidas de água doce (lagos e albufeiras, por exemplo) absorvem o excesso de águas em caso de tempestades e fenómenos extremos de chuva, prevenindo cheias e reservando água que é essencial em períodos de seca prolongada.
“O valor global dos serviços de ecossistemas das zonas húmidas para a saúde, segurança e bem-estar humanos está estimado em 47,4 mil milhões de dólares por ano”, destaca.
Neste sentido, o Secretariado da Convenção Ramsar e o ICNF apelam ao envolvimento da população na proteção das zonas húmidas, desafiando países, organizações não governamentais e cidadãos a promover eventos que assinalem a data e a partilharem esta informação.
Eventos e desafio fotográfico assinalam Dia Mundial das Zonas Húmidas 2025
Em Portugal são já mais de uma dezena os eventos programados para celebrar o Dia Mundial das Zonas Húmidas de 2025, uns já realizados em janeiro, outros unicamente para a comunidade escolar, e outros agendados para fevereiro e abertos à participação pública, como estes dois que aqui indicamos a título de exemplo:
- Na Área Metropolitana de Lisboa: Uma manhã como cientista na Lagoa Pequena – dia 2 de fevereiro, a Câmara Municipal de Sesimbra, a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e o ICNF convidam para uma atividade em família: uma visita guiada para recolha de dados sobre aves, répteis, mamíferos, plantas e fungos, complementada pela recolha e analise de macroinvertebrados, na Lagoa de Albufeira – Lagoa Pequena. A iniciativa é aberta ao público, mas requer inscrição prévia.
- Na Área Metropolitana do Porto: À descoberta do charco das Austrálias – a 4 de fevereiro, o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Matosinhos promove uma saída de campo ao charco das Austrálias, criado recentemente no Parque das Austrálias, em Matosinhos, no âmbito do projeto Charcos com Vida.
Fique a par de outros eventos que assinalam o Dia Mundial das Zonas Húmidas 2025 em Portugal, na Agenda Florestas.pt ou consulte os eventos que se realizam pelo mundo a assinalar esta efeméride.
O secretariado da Convenção Ramsar lança também um convite especial para assinalar esta data: desafia todos os apaixonados pela natureza – sejam fotógrafos, conservacionistas ou simplesmente amigos da natureza –, a registar e submeter as suas melhores fotografias dos Sítios Ramsar nos respetivos países, para ilustrar estes espaços e as suas histórias.
Como participar:
Submeter até duas fotografias (imagens nos formatos JPEG ou PNG, com resolução mínima de 300 dpi) até 28 de fevereiro de 2025, através do formulário disponível em https://eu.jotform.com/form/242451730622348. As imagens devem ilustrar a beleza, biodiversidade ou significado ecológico dos Sítios Ramsar.
As melhores imagens serão selecionadas para serem expostas na 15.ª Convenção Ramsar a realizar em julho, no Zimbabué. O nome dos autores será reconhecido nesta mostra e na galeria de imagens do site da Convenção. Adicionalmente, um conjunto de imagens selecionadas ficará exposto na sede da organização Ramsar.
As fotografias serão avaliadas com base na criatividade, relevância para a conservação das zonas húmidas e impacte visual.
A exposição destas imagens pretende reforçar o papel crítico desempenhado pelas zonas húmidas para a manutenção do equilíbrio ecológico, a estrutura da biodiversidade e o sustento de comunidades locais em todo o mundo.
31 zonas húmidas portuguesas classificadas como Sítios Ramsar
Portugal subscreveu a Convenção Ramsar em 1980 e no ano seguinte foram oficialmente designadas as duas primeiras Zonas Húmidas de Interesse Internacional: o Estuário do Tejo e a Ria Formosa. Antes do final do século XX e já nos anos 2000, novas áreas foram classificadas em Portugal continental, totalizando, em 2025, 18 Zonas Húmidas de Interesse Internacional:
- Estuário do Mondego;
- Estuário do Sado;
- Estuário do Tejo;
- Lagoa da Pateira de Fermentelos e Vales dos rios Águeda e Cértima.
- Lagoa de Albufeira;
- Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arco;
- Lagoas de Santo André e da Sancha;
- Paul da Madriz;
- Paul de Arzila;
- Paul de Tornada;
- Paul do Boquilobo;
- Paul do Taipal;
- Planalto Superior da Serra da Estrela e Parte Superior do Rio Zêzere;
- Polje de Mira Minde e nascentes relacionadas;
- Ria de Alvor;
- Ria Formosa;
- Rio Vascão;
- Sapais de Castro Marim.
Em 2005 foram estabelecidos também os primeiros Sítios Ramsar nos Açores (Fajã dos Cubres e Fajã da Caldeira de Santo Cristo) e o seu número elevou-se desde 2008, totalizando 13 zonas em 2025:
- Caldeira da Graciosa (Furna do Enxofre);
- Caldeira do Faial;
- Caldeirão do Corvo;
- Complexo Vulcânico das Furnas – São Miguel;
- Complexo Vulcânico das Sete Cidades – São Miguel;
- Complexo Vulcânico do Fogo – São Miguel;
- Fajãs dos Cubres e da Caldeira de Santo Cristo – São Jorge;
- Planalto Central de São Jorge;
- Ilhéus das Formigas e Recife Dollabarat;
- Paul da Praia da Vitória – Terceira;
- Planalto Central da Terceira (Furnas do Enxofre e Algar do Carvão) – Terceira;
- Planalto Central das Flores (Morro Alto);
- Planalto Central do Pico (Achada);
Pode visualizar neste mapa a localização dos Sítios Ramsar em Portugal.
Estas zonas húmidas encontram-se integradas no Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC) e alguns destes territórios estão abrangidos por mais do que um instrumento de proteção: pela Rede Nacional de Áreas Protegidas (portuguesa), Rede Natura 2000 (europeia) ou por outros compromissos internacionais subscritos pelo Estado Português que, além da Convenção Ramsar, incluem também os Geoparques e as Reservas da Biosfera da UNESCO.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.