Investigadores do Instituto de Inovação Agropecuária do Chile desenvolveram uma nova variedade de arroz que promete revolucionar a produção deste cereal a nível global. Esta inovação permite reduzir significativamente o consumo de água e eliminar as emissões de metano associadas ao cultivo tradicional, respondendo a dois grandes desafios da agricultura atual: a escassez hídrica e as alterações climáticas.
O arroz é um alimento essencial na dieta de milhões de pessoas, especialmente em países asiáticos como a China, Índia e Indonésia. No entanto, o seu cultivo convencional, que implica a inundação dos campos, contribui de forma expressiva para a emissão de metano — um potente gás com efeito de estufa — e requer grandes quantidades de água.
Para responder a estes problemas, os cientistas chilenos criaram um sistema de produção de arroz mais sustentável, baseado em variedades de alto rendimento que crescem em condições aeróbias, ou seja, sem necessidade de alagamento. Este novo modelo, semelhante ao utilizado na produção de milho, inclui técnicas como a rotação de culturas e a plantação em linhas, com regas intervaladas de 8 a 12 dias, ajustadas ao tipo de solo e clima.
“Um dos passos fundamentais desta metodologia é a rotação de culturas, o que representa uma inovação na rizicultura. O arroz é tradicionalmente cultivado em monocultura, o que empobrece o solo e acelera a sua erosão. Com esta nova abordagem, conseguimos manter um rendimento elevado sem recorrer à inundação, preservando a estrutura do solo”, explicou Karla Cordero, coordenadora nacional de segurança alimentar do Instituto de Inovação Agropecuária (INIA).
Além de reduzir o impacto ambiental, esta técnica também diminui a necessidade de agroquímicos, o que se traduz numa poupança para os agricultores. Os primeiros ensaios-piloto decorreram com sucesso na região do Maule, que enfrenta uma grave seca há mais de uma década, e despertaram o interesse de vários produtores locais.
A nível global, a relevância deste avanço é evidente: estima-se que cerca de 10% das emissões mundiais de metano sejam provenientes dos campos de arroz inundados. A nova tecnologia agrícola desenvolvida no Chile oferece uma alternativa eficaz que não só reduz o consumo de água, como também contribui para a mitigação do aquecimento global.
“O melhoramento genético vegetal, aliado à modernização das práticas agrícolas, é essencial para adaptar a produção alimentar aos desafios climáticos. Esta inovação beneficia não só os agricultores, como também protege os recursos hídricos e o meio ambiente”, sublinhou Miguel Ángel Sánchez, diretor executivo da organização ChileBio.
O projeto conta com o apoio de diversas entidades nacionais e internacionais, incluindo o Global Methane Hub, que promove a redução das emissões deste gás em todo o mundo.
Com esta descoberta, o Chile posiciona-se como líder em soluções agrícolas sustentáveis, reforçando o seu compromisso com a conservação dos recursos naturais e a segurança alimentar global.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.