Diversas iniciativas nos últimos anos, quer no Parque das Serras do Porto, quer nas autarquias e associações ambientais vão-se somando às mais de 100.000 árvores plantadas no âmbito do projeto do CrePorto, ecoa um movimento crescente em Portugal: a busca por uma simbiose entre agricultura e floresta. Em Paredes, essa integração já demonstra os seus frutos, lembrando-nos da importância de uma reflorestação abrangente, alinhada com a estratégia “Do Prado ao Prato” do Pacto Ecológico Europeu. Esta visão procura não só travar a degradação ambiental, mas também garantir a qualidade e segurança dos alimentos que chegam às nossas mesas.
A valorização dos circuitos curtos, onde os bens alimentares são produzidos, comercializados e consumidos localmente, é crucial para mitigar os impactos negativos do transporte e embalamento. Este modelo, além de ambientalmente mais sustentável, fortalece as economias locais e garante a frescura dos produtos. Contudo, para que esta visão se concretize plenamente, é imperativo reforçar dois pilares fundamentais: a salvaguarda da biodiversidade dos ecossistemas e o aumento da rentabilidade da agricultura de pequena escala..
Os dados estatísticos revelam a importância da agricultura em Portugal, mas também os desafios que enfrenta. Em 2023, a área agrícola utilizada representava cerca de 40% do território nacional, demonstrando a sua significativa presença na paisagem. No entanto, o setor tem assistido a um envelhecimento da sua população ativa. Segundo o INE, embora a agricultura ainda empregue uma parte considerável da população, com cerca de 500 mil trabalhadores, verifica-se uma tendência de decréscimo, o que sublinha a urgência da renovação geracional.
Apesar dos desafios, a agricultura portuguesa demonstra um potencial significativo. O valor da produção agrícola em 2023 atingiu os 8,5 mil milhões de euros, impulsionado por setores como a fruticultura, o azeite e o vinho, produtos com forte identidade e potencial de exportação. As exportações de produtos agrícolas e alimentares, que ultrapassaram os 7 mil milhões de euros no mesmo ano, evidenciam a capacidade do setor em contribuir para a balança comercial do país.
Para impulsionar um futuro mais verde e próspero, é essencial insistir na incorporação de critérios ambientais nos processos de contratação pública. Municípios, escolas, hospitais e outras instituições públicas têm um papel crucial na promoção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis, privilegiando alimentos frescos, nutritivos e produzidos localmente. Mas é preciso mais, esta estratégia só pode ter sucesso se os municípios intervierem no processo de forma liderante, assumirem a gestão da logística da oferta e colocaram dinheiro público para compensarem os microprodutores.
A aposta nos jovens agricultores, como os que em Paredes aprendem desde cedo a cuidar da terra, é fundamental para garantir a continuidade do setor. É necessário criar condições reais para que novos talentos possam ingressar na atividade agrícola, municiados de conhecimento, ferramentas e estabilidade para desenvolverem os seus projetos. Menos burocracia e mais apoio à renovação geracional são imperativos para dar futuro à agricultura portuguesa, isto é, candidaturas abertas de forma permanente no tempo, todos os dias até ao fim desde quadro financeiro plurianual, tendo como objetivo apoio à 1.ª instalação de jovens agricultores, isto é, toda a candidatura que seja aprovada é financiada com dinheiro público.
Os agricultores são, de facto, quem nos garante o “prado no prato”, essencial para um sistema agrícola e alimentar competitivo e resiliente. Mais do que nunca, é crucial garantir um nível adequado de reservas e armazenamento para alimentar o país sem sobressaltos nas cadeias de abastecimento. A agricultura deve ter as condições necessárias para produzir essas reservas, investindo em cadeias de abastecimento verdadeiramente resilientes, capazes de absorver choques e garantir um fornecimento contínuo de alimentos, especialmente em cenários de crise.
A segurança de um país passa também pela sua capacidade de alimentar a sua população. A agricultura é, inegavelmente, um pilar da segurança nacional. Como bem frisou a presidente da Comissão Europeia, é fundamental “apostar em diálogos com os jovens, identificar necessidades de investimento em defesa e apoiar o setor agrícola em linha com as metas climáticas comunitárias”. Sem agricultores a trabalhar a terra, quem produzirá os alimentos necessários para alimentar as nossas comunidades?
Semear futuro na agricultura portuguesa implica, portanto, um esforço conjunto para valorizar a produção local, promover a sustentabilidade, apoiar a nova geração de agricultores e garantir a resiliência do nosso sistema alimentar. É um investimento no nosso ambiente, no nosso território, na nossa economia e no nosso futuro.
Escritor e engenheiro do ambiente