Investigadores da Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven) e da Universidade de Liège, na Bélgica, desenvolveram uma técnica de edição genética que pretende transformar o cultivo da banana, uma das frutas mais consumidas no mundo e base alimentar para mais de 400 milhões de pessoas.
Segundo o estudo, publicado na revista New Phytologist, através da tecnologia CRISPR, a equipa conseguiu alterar uma única “letra” do ADN da bananeira sem introduzir material genético externo — um feito que respeita as rígidas normas da União Europeia (UE) quanto a Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
De acordo com os cientistas, a mutação introduzida é equivalente a qualquer outra que poderia surgir de forma natural, cumprindo assim os critérios exigidos pela legislação europeia que proíbe ADN exógeno em culturas alimentares.
Os investigadores sublinham que, com as alterações climáticas a intensificar-se e a propagação de doenças a ameaçar plantações inteiras, esta abordagem pode ser fundamental para a sobrevivência futura das bananas, uma vez que estas plantas são cultivadas por clonagem, não produzem sementes, e são geneticamente idênticas entre si, o que as torna extremamente vulneráveis.
“O melhoramento genético convencional, usado em culturas com sementes, não é viável no caso da banana. Precisamos de métodos inovadores para garantir a sua sobrevivência face às ameaças atuais e futuras”, explicou o professor Hervé Vanderschuren, especialista em biotecnologia de culturas tropicais da Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven).
Para os cientistas responsáveis pelo estudo, “este método representa um avanço significativo na aplicação segura e viável da edição genética em culturas estéreis, uma vez que a edição genética tem um grande potencial para melhorar diversas culturas agrícolas”.
De recordar que o Parlamento Europeu aprovou, no ano passado, o uso do CRISPR para melhorar a composição das plantas, estando agora a decisão final nas mãos do Conselho Europeu. Enquanto a decisão não é comunicada, a KU Leuven avançou que continua a estudar mais de 1.700 variedades de banana da sua vasta coleção, com o intuito de encontrar mutações naturais que proporcionem maior resistência a doenças ou fenómenos climáticos extremos.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.