
Estima-se que nos últimos 30 anos a área de cereais praganosos em Portugal tenha reduzido de cerca de 900 mil hectares para aproximadamente 257 mil, com a maior parte desta área a ser convertida em pastagens, alguma ao abandono e outra parte em culturas economicamente mais atrativas como o olival e o amendoal. Esta é uma tendência que é preciso inverter, e ao mesmo tempo tornar o setor mais apelativo. Foi neste contexto que se desenvolveu a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, tornada pública em 2018 e que entre medidas e objetivos preconiza atingir um grau de autoaprovisionamento de 80% no arroz, 50% no milho e 20% nos cereais praganosos, num horizonte de cinco anos.
No mesmo sentido definiram-se três objetivos estratégicos e respetivos objetivos operacionais, nomeadamente: “Reduzir a dependência externa, consolidar e aumentar as áreas de produção”; “Criar valor na fileira dos cereais” e “Viabilização da atividade agrícola em todo o território”.
Completamente alinhada com a Estratégia foi recentemente lançada a marca de cereais não processados 100% nacionais – Cereais do Alentejo – encabeçada pela Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e fruto também do Clube Português de Cereais de Qualidade (CPCQ), tendo ocorrido precisamente por altura do 20.º aniversário do mesmo. Para o Clube esta Marca é “um fruto da sua sã atividade congregadora de toda a fileira e pode vir a ter um papel importantíssimo no paulatino aumento da área de cereais praganosos em Portugal”.
Um dos requisitos para que os agricultores possam fornecer cereal à Marca “Cereais do Alentejo”, além de pertencerem a uma das cinco organizações de produtores associadas da ANPOC (Cersul – Agrupamento de Produtores de Cereais do Sul, Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, Cooperativa Agrícola de Beringel, GlobAlqueva e Procereais), é que utilizem semente certificada da Lista de Variedades Recomendadas (LVR). A variedade de trigo duro “Don Ricardo” e as variedades de trigo mole “Antequera” e “Valbona”, disponibilizadas pela Agrovete, empresa que se dedica ao comércio por grosso e certificação de sementes, fazem parte deste leque que serve de base à marca “Cereais do Alentejo”.
Na fase de arranque da nova marca, a ANPOC celebrou já um contrato com a Germen, uma das maiores empresas de moagem de cereais em Portugal, e com a Sonae para a comercialização de produtos produzidos com cereais do Alentejo. Conforme nos avançou a presidente do Clube de Produtores Continente, Ondina Afonso, a assinatura deste protocolo resultará na garantia da compra de várias toneladas de trigo mole que será depois a base de todos os pães de trigo produzidos nas lojas Continente. Além disso, “representa também o compromisso junto das várias organizações de produtores, de que aquilo que semeiam e em que investem tem um destino”.
Foi igualmente assinado um protocolo com a Cerealis e a Auchan também para a comercialização; e uma parceria com a Cerealis para a produção das massas com o selo Cereais do Alentejo (edição limitada).
Para já a previsão desta iniciativa é gerar um volume de negócios no valor de 2,5 milhões de euros no período de dois anos, ao envolver cerca de dez mil toneladas de cereal, abrangendo uma área cultivada de mais de 3.300 hectares.
Nas próximas páginas pode descobrir as opiniões e estratégias de alguns dos principais intervenientes na marca “Cereais do Alentejo”.
Toda a Reportagem para ler na Voz do Campo n.º 228 (julho 2019)