
Na Sociedade Agrícola da Torre das Figueiras, no concelho de Monforte, impera a diversificação cultural, fruto de um forte investimento realizado nos últimos anos nas mais modernas técnicas de produção. A amendoeira foi uma das opções, já em 2014, mas o diretor- geral da Torre das Figueiras, José Maria Falcão, admite que mesmo hoje mantém-se algum desconhecimento, em especial no sistema de produção superintensivo, que ainda não teve os anos necessários para consolidação.
Foi para suprir esta dificuldade, desenvolver ensaios e obter transferência de conhecimento (…) que estabeleceu uma parceria com o INIAV, concretamente a Estação Nacional de Fruticultura Vieira de Natividade e que resultou na recente “1.ª Ação de Divulgação e Transferência de Conhecimento – Formas de Condução de Amendoeiras em Sistema Intensivo” que contemplou a visitas a vários ensaios onde se estudam diferentes formas de condução das variedades plantadas.
O amendoal da Herdade da Torre das Figueiras conta com uma área de 60 hectares em modelo superintensivo (compasso 5X1.5 com 45 ha de Avijor, 15 ha de Soleta, 2,5 de Guara e 2,5 ha de Belona, todas enxertadas em Rootpack 20) a que se somam mais 15 hectares de amendoal intensivo (compasso 6×4 das variedade Avijor enxertada em GF677).
Desde que se instalou o primeiro amendoal já mudou quase tudo
Questionado sobre o que mudou desde que deu os primeiros passos nesta cultura, o empresário agrícola assume que “foi quase tudo”. Desde a forma de regar e adubar, sistema de condução e poda, adaptação das árvores ao sistema de colheita (…). “Como pioneiros no sistema superintensivo e honestamente sem que ninguém no mundo técnico da amêndoa saiba como conduzir neste formato, fomos cometendo erros e corrigindo, a custas próprias, mas agora pensamos estar no bom caminho”.
Olhando para trás e para as campanhas já decorridas, o balanço que pode ser feito é que na primeira campanha, tinha o amendoal dois anos e meio, obteve-se o que se considerou uma produção excecional (800 kg de miolo/ hectare). Seguiu-se uma colheita desastrosa (400 kg/ha) por falta de água e para a atual campanha a expetativa é chegar perto dos 1000 kg de miolo/ha.
O empresário está a aumentar a área de amendoal noutra exploração na região de Abrantes onde estão a ser implantados 40 hectares em modo intensivo, com compasso de 6×4 com as variedades Vairo, Soleta e Avijor. “Aqui já não há área disponível uma vez que a Herdade se encontra dentro de uma zona de proteção de aves estepárias e por isso, sem qualquer contrapartida, está impedida de alterar a sua ocupação cultural”.
Relativamente à comercialização, José Maria Falcão reporta-se ao Agrupamento de Produtores (OP) constituído há dois anos e que está agora a montar um pátio de receção, limpeza, descapotamento e armazenagem da amêndoa de modo chegar ao produto comercial amêndoa com casca. Nos últimos dois anos toda a produção foi escoada para operadores espanhóis com fábricas acopladas.
Em jeito de conclusão aconselha cuidado a quem está agora a entrar na cultura “porque não é fácil, tem problemas sanitários complexos, adubação e rega com fases muito críticas, além de muitos charlatões em especial no aconselhamento técnico no modelo superintensivo, sobre o qual se sabe muito pouco”. Por outro lado, aconselha igualmente os produtores a associarem-se num agrupamento pois não é compatível cada exploração possuir uma unidade de processamento industrial.
Primeiros dados dos ensaios são importantes mas dentro de dois ou três anos os resultados serão mais consistentes
Em representação do INIAV – Estação Nacional de Fruticultura Vieira de Natividade, Rui Maia de Sousa avançou à nossa reportagem que o objetivo desta primeira Ação de Divulgação e Transferência de Conhecimento teve por objetivo difundir o que está a ser feito em termos de experimentação nas amendoeiras, principalmente nos sistemas de condução. Recordou que o produtor procurou o INIAV porque tinha um pomar superintensivo e chegou a uma altura sem saber muito bem o que fazer quando as árvores não cabiam dentro das máquinas de colheita (as mesmas do olival).
Os ensaios estão a acontecer em árvores com várias idades e no caso das que que foram plantadas em 2016 (mais recentes) o INIAV acompanhou o sistema de condução (eixo central revestido e sistema em três eixos) desde início, quer na variedade Lauranne, quer na Soleta, sendo a testemunha o sistema com três eixos que o agricultor faz. As intervenções (poda) realizam-se sempre em verde, finais de maio a princípio de junho e em setembro.
Nas árvores mais velhas, plantadas em 2014 mas acompanhadas pelo INIAV só desde 2017, procurou-se aproveitar o que existia sem uma definição concreta do tipo de condução. Apenas se procura eliminar ramos fortes e comparar com o sistema que o produtor tem.
Falando em resultados, o investigador explica que no caso do ensaio mais novo é mais fácil porque foi tudo acompanhado de raiz e os dados preliminares apontam para que, no caso da Soleta, por exemplo, o sistema de condução que mais produziu e que deu mais rendimento foi o de eixo central revestido. Já a Lauranne adapta-se mais ao sistema de três eixos já que é uma variedade mais vigorosa e tem de ter o vigor distribuído por mais ramos. Em relação à Belona e à Guara o que existe é um sistema com mais ramos velhos ou um sistema com mais ramos novos, pelo que só dentro de dois ou três anos os resultados serão mais consistentes.
Sobre a cultura propriamente dita, Rui Maia de Sousa é da opinião que será rentável enquanto continuar o preço atual. Por outro lado, é preciso atenção constante à evolução da cultura e aos seus requisitos. Precisa de água (rega) para obtenção de produções rentáveis, e exige luz no interior da copa para se manter produtiva.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 229 (ago.set 2019)