
“A indústria da alimentação animal é dos setores mais importantes no panorama agroalimentar”
José Romão Leite Braz é licenciado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior Técnico. Atualmente exerce as funções de vice-presidente do Grupo Finançor, que atua nos setores da indústria agroalimentar e turismo, e, entre outros cargos, desde 2018 é também presidente da direção da IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais. Foi nesta última qualidade que nos retratou o setor da indústria de alimentos compostos para animais, olhando para as cinco décadas que a Associação celebra e antevendo os desafios que se colocam nas próximas.
Primeira e inevitável pergunta. Como começou a Associação?
Em 50 anos a evolução foi enorme. Um passado de que nos orgulhamos, impensável quando a Indústria começou em finais dos anos 60. O único aspeto que podemos considerar como imutável, é a postura e determinação da IACA junto dos seus associados, em apoiar as empresas e defender os seus legítimos interesses, em Portugal ou a nível internacional. De resto tudo mudou como o mundo e o ambiente socioeconómico em que nos movimentamos, os desafios e constrangimentos, a tecnologia de fabrico, a legislação, o mercado (…).
Em meados dos anos 60 do século passado, num contexto de condicionamento industrial e de matérias-primas comercializadas pelo Estado, em que os Grémios eram as estruturas representativas dos diferentes setores (agrícolas e agroalimentares), um conjunto de industriais de então, liderados pelo Dr. Carlos Lebre, constituíram o Grémio Nacional dos Industriais dos Alimentos Compostos para Animais (GNIACA), em 1969. Com o 25 de abril, em 1974 e a extinção dos Grémios, evoluiu para a IACA – Associação Portuguesa dos Industrias de Alimentos Compostos para Animais.
Não é fácil sintetizar nestas linhas o que foi e é a IACA, o seu percurso ao longo de cinco décadas. Por isso vamos publicar um Livro de memórias (essencialmente fotográfico) para testemunhar o que de mais relevante se viveu na história da IACA, uma Associação que sempre se soube renovar e reinventar, para dar resposta aos desafios dos tempos, dos industriais aos mercados e consumidores.
Com quantas empresas associadas conta? E como se caracterizam?
Uma das características destes mercados tem a ver com uma relativa concentração da atividade, face a empresas que entretanto encerraram e outras que se fundiram, no sentido de criar dimensão. Mas temos empresas de todas as dimensões, tendo a fábrica média uma produção na ordem das 70 000 tons/ano. As 43 empresas de alimentos compostos representam 80% do mercado nacional, com uma produção na ordem dos 3.2 milhões de toneladas, a que se juntam mais 15 empresas de pré-misturas e de aditivos, um total de 58 associados.
Temos empresas mais vocacionadas para o chamado “mercado livre”e outras integradas, ou seja, para além dos alimentos compostos, têm a atividade pecuária associada. De resto a tendência hoje é para a contratualização da produção. A maioria das empresas tem uma produção multiespécie.
Que volume de negócios representam?
Com um volume de negócios de cerca de 1 426 milhões de euros, a indústria da alimentação animal é um dos setores mais importantes no panorama agroalimentar nacional, representando 12% do volume de negócios da agroindústria, influenciando, direta e indiretamente as indústrias de carnes e de laticínios. Com 111 empresas e 3 500 trabalhadores, é responsável por 1.2% do universo empresarial e 4% do volume de emprego do agroalimentar.
Os alimentos para aves são líderes de mercado, com peso superior a 40%.
Quais são os alimentos (compostos) mais produzidos em Portugal?
Dos cerca de 4 milhões de toneladas de produção industrial (3.9 milhões se excluirmos os autoprodutores) que produzimos anualmente, de acordo com os dados da DGAV publicados recentemente – o que se saúda, uma vez que nos últimos anos todos utilizavam os nossos dados ou estimativas – os alimentos para aves são líderes de mercado, com um peso superior a 40%, seguindo-se os bovinos e suínos, com grande proximidade (23% e 22%, respetivamente) e os outros animais com 11%. Destes, destaque para os petfood (cães e gatos) que já têm quase 4% de quota de mercado, tendo vindo a substituir importação por produção nacional, o que é bastante importante.
Como é que as indústrias têm evoluído?
As indústrias têm-se adaptado à legislação e às exigências de mercado, investindo em tecnologia que lhes permitam a garantia de qualidade dos processos de fabrico, a redução de custos e ganhos de eficiência, num mercado fortemente concorrencial, com clientes cada vez mais exigentes, atentos aos desafios da segurança alimentar, da competitividade da pecuária, do ambiente e da sustentabilidade, investindo cada vez mais na alimentação de precisão.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 229 (ago.set2019)