
Introdução
Nos últimos anos, nomeadamente em 2015 e 2016, o fungo Stemphylium vesicarium (Wallr.) E.Simmons, responsável pela doença estenfiliose, provocou graves prejuízos na produção de pera ‘Rocha’ na região Oeste. O setor produtivo pressionou o poder político e foi constituído, pelo despacho n.º 11400/2016, de 23 de setembro de 2016, do Sr. Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, um Grupo de Trabalho. Este tinha como missão elaborar um Plano de Ação para controlo desta doença. Neste despacho era referido que “o Plano de ação deverá contemplar, nomeadamente as seguintes vertentes:
a) Identificação das necessidades de linhas de investigação e de desenvolvimento experimental, incluindo o estudo de medidas alternativas ou complementares à luta química;
b) Estabelecimento das medidas a implementar para a monitorização do fungo;
c) Sensibilização/informação dos produtores.”
Constituição do Grupo de Trabalho
Este Grupo de Trabalho (GT) é composto por cinco entidades: Instituto Nacional de Investigação Agrário e Veterinária (INIAV), que preside, Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo (DRAPLVT), Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP) e Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN). Este Grupo tinha 90 dias para apresentar o Plano de Ação.
Plano de Ação
Dentro do prazo estabelecido, pelo despacho 11400/2016, o GT apresentou o Plano de Ação tendo este sido aprovado assim como a calendarização das ações a 10 de janeiro de 2017, com a ressalva “o INIAV deverá procurar opções de fontes de financiamento comunitárias disponíveis para efeitos de enquadramento deste plano de ação.”
Como é evidente o tempo que medeia entre a apresentação de um projeto e a sua aprovação, assim como o seu enquadramento, pode demorar anos.
O Plano de ação aprovado era constituído pelos seguintes oito pontos:
1) Enquadramento do problema,
2) Quantificação dos estragos e prejuízos,
3) Identificação de algumas publicações técnico-científicas,
4) Identificação de nove linhas de investigação e de desenvolvimento experimental necessárias,
5) Medidas a implementar para a monitorização do fungo,
6) Ações de sensibilização/informação dos produtores,
7) Orçamento para a implementação do plano,
8) Calendarização.
Implementação do Plano de Ação
Devido à gravidade do problema e não existindo verbas para a implantação do Plano de Ação, a única forma de o iniciar era recorrer aos recursos existentes nas entidades que constituem o GT. Assim, foi considerado pelo GT que a acão que poderia ajudar mais o setor produtivo seria a monitorização, pelo que a 7 de março de 2017 iniciou-se o trabalho de monitorização do fungo em 3 pomares da Região Oeste (Torres Vedras, Bombarral e Alcobaça) com histórico desta doença e que estivessem perto de estações meteorológicas. Em maio veio a verificar-se que seria interessante incluir um pomar sem histórico da doença e passou a fazer-se a monitorização em 4 pomares. Semanalmente, com base nas observações nos pomares e em laboratório, é emitida uma folha informativa na qual consta o número médio de conídios, ascósporos e esporos por pomar, por semana e por cm2, assim como a percentagem de folhas e frutos com sintomas de estenfiliose e a percentagem de frutos analisados em laboratório e com estenfiliose. A recolha da informação e do material nos pomares era feita pelos técnicos das organizações de produtores (Campotec, Associação de Agricultores da Região de Alcobaça e Associação de Produtores Agrícolas da Sobrena), sendo o transporte do material recolhido nos pomares até Oeiras assegurado pela Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade (ENFVN). A observação em laboratório era efetuada no INIAV, em Oeiras, no Laboratório de Micologia da Unidade de Investigação e Serviço de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal (UEIS-SAFSV).
Em 2017 foram emitidas 29 Folhas Informativas para cerca de setenta entidades.
Em 2018, o GT reuniu na ENFVN, com as entidades representantes dos produtores e com as empresas fornecedoras de fatores de produção. Nesta reunião foi apresentada a necessidade de se contratar um técnico para fazer as observações em todos os pomares monitorizados e uniformizar assim os critérios de monitorização. Em abril de 2018 esse técnico foi contrato, sendo 50% das despesas da contratação suportadas pelas entidades representantes dos produtores e 50% pelas empresas fornecedoras de fatores de produção. A observação em laboratório do material recolhido nos pomares passou a ser efetuada na ENFVN e pontualmente no INIAV de Oeiras (UEIS-SAFSV). Embora a informação semanal seja pública, as entidades que estão a suportar as despesas desse técnico têm acesso à informação oito dias mais cedo que os restantes.
Em 2018, foram emitidas 38 folhas informativas (março a dezembro)
Em 2019, o contrato do técnico foi renovado pelas diferentes entidades. A monitorização iniciou-se em janeiro, no sentido de informar os produtores do índice de maturação das pseudotecas. As pseudotecas, são estruturas que se formam no inverno, que se encontram nas folhas secas e em outro material vegetal em decomposição no solo e que se vão desenvolvendo formando os ascos, que quando maduros, libertam os ascósporos.
Os ascósporos e os conídios são as formas do fungo que infetam as folhas e os frutos. As três primeiras folhas informativas de 2019, entre 15 de fevereiro e 14 de março, informavam os produtores sobre o estado de maturação das pseudotecas no sentido de estes retirarem a fonte de contaminação da estenfiliose antes da libertação dos ascósporos.
A partir de 20 de março, com o início do abrolhamento, voltamos a quantificar o número de esporos nos pomares em observação tendo até ao momento (15 de julho) sido emitidas 20 Folhas Informativas. Estas folhas são públicas no site do INIAV (http://www.iniav.pt/noticias/informacoes-do-gt-estenfiliose) e do COTHN (https://www.cothn.pt/articles/541).
Rui M. Maia de Sousa
INIAV, I.P.
Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade
2460-059 Alcobaça – Portugal
e-mail: rui.sousa@iniav.pt
Para ler na íntegra na Voz do Campo nº 229 (ago.set. 2019)