
“Vale o que vale, é um número.” Pedro Ferreira referia-se a um estudo pouco promissor quanto ao futuro dos contabilistas: projetava a análise apresentada pelo professor do ISCTE, que, em 2035, 44% dos contabilistas irão ficar sem emprego. Durante a primeira mesa redonda da tarde – “Os contabilistas do futuro num mundo em mudança” – este foi o tema em discussão: qual o impacto das tecnologias disruptivas no trabalho dos profissionais da contabilidade?
“As máquinas são nossas amigas”, introduziu Pedro Ferreira durante a sua apresentação. “Ainda ontem mandaram-me um vídeo por email, onde se via um funcionário de uma empresa do ramo automóvel a vestir um fato com um robô ao lado.” O professor defende que, à semelhança do que acontece noutras profissões, a tecnologia é uma ferramenta de auxílio e não uma forma de desumanizar o trabalho.
É esse o posicionamento da classe face à tecnologia. “No passado tivemos uns ‘programitas’ de contabilidade para fazer débitos e créditos. O sistema contabilístico depende menos de pessoas e mais da tecnologia. O sucesso da atividade passa por encontrar parceiros tecnológicos com os quais casamos de forma aberta”.
Nas palavras do irlandês Eamonn Siggins, chefe executivo do Instituto Público de Contabilistas Certificados, que também participou neste mesa redonda, trata-se de “focar o lado humano, olhar nos olhos”. “Há um futuro para os contabilistas , diferente mas interessante”, disse o irlandês, para quem a tecnologia vai “acabar com a parte chata e rotineira” da profissão.
“A classe tem receios, o que é natural perante este tipo de estudos. Mas é aqui que devemos reagir e transformar grandes ameaças em grandes oportunidades. O contabilista certificado nunca pôde ser tão interventivo com o seu know how porque não tinha tempo. Conquistado esse tempo, graças à tecnologia, vai ter um papel ainda mais importante na sociedade”, disse Paula Franco ao Expresso. “Quando apareceu o tractor, o agricultor não desapareceu.”