
Vamos convidar o caro leitor a fazer um rápido quizz. Quando diz a seguinte frase, a que é que Assunção Cristas se estará a referir? Citação: “Têm de se juntar, para terem força. Se forem pouquinhos, isto não dá em nada”. Opção “a”: Cristas está, naturalmente, a falar de PSD, CDS e a força que, somados, devem conseguir nestas eleições para evitar que se forme nova maioria de esquerda. Opção “b”: Cristas está a apreciar as laranjas cultivadas num terreno algarvio e aconselha os agricultores a juntarem-se para exigir melhores condições para o setor.
Se respondeu “b”, acertou: Cristas passou efetivamente parte da manhã desta terça-feira de visita a um terreno em Silves, no Barrocal algarvio, uma subregião que fica entre a serra e o litoral e se caracteriza pelo microclima ideal para o cultivo, “protegido do norte e afastado do mar”. E mesmo que a frase parecesse política, a líder centrista estava, na verdade, a dirigir-se aos representantes da Associação de Regantes e Beneficiários que a acompanharam nesta visita guiada.
Quem também esteve ao seu lado, e por ali continuou no resto deste dia dedicado ao Algarve, foi o deputado João Rebelo. Visivelmente, com muito trabalho de casa feito: Rebelo foi deslocado para o círculo de Faro nestas eleições, pelo que se tornou aquilo a que se costuma chamar um candidato ‘pára-quedista’, sem ligações anteriores ao distrito. E com poucas hipóteses de ser eleito, uma vez que o partido não está a contar segurar o único mandato algarvio que tinha, e que até agora era da centrista Teresa Caeiro. Mas Rebelo mostrou-se um cicerone eficaz.
Aos jornalistas, explicou como não chove no Algarve de forma regular há mais de dois anos, o que leva a um estado de seca extrema em 80% do território e severa nos restantes 20%. E defendeu que é preciso defender o “radicalismo” que quer erradicar certas culturas. Os agricultores mostraram-se de acordo: a laranja, cultivo típico do Algarve, gasta tanta água como apostas novas, como o abacate. E por isso é preciso continuar a dar condições para que os agricultores inovem nestas culturas e expandam as áreas em que trabalham, com uma garantia dada pelo presidente da Associação, João Garcia: estes profissionais querem ser “cada vez mais amigos do ambiente”.
No Barrocal, com vista para a serra e a parte dela que continua queimada graças aos incêndios de Monchique no ano passado – é interrompida pela faixa verde que está cultivada e regada e por isso “transforma a paisagem”, reforçou Cristas -, a líder e o deputado ouviram as explicações de quem trabalha a terra e pede mais meios para conseguir gastar a água de forma mais eficaz, enquanto se queixa da dificuldade em “arranjar pessoas para trabalhar”. Para isto, Cristas, que foi ministra da Agricultura e por isso mostra particular à-vontade nestas matérias, tem resposta pronta: referir a proposta do CDS para que os jovens que queiram trabalhar sazonalmente nestas áreas não façam automaticamente com que as suas famílias percam os seus benefícios fiscais.
Enquanto passeia pela serra e recebe um cabaz de produtos típicos, incluindo bolachas de alfarroba, romãs, frutos secos ou licor de laranja, Cristas entretém-se a mirar os frutos das árvores enquanto comenta para ninguém em particular: “Gosto muito de laranjas. De sumo natural, espremidinho em casa”. Podíamos voltar ao quizz inicial e perguntar se a referência era a pensar no PSD, mas… não, era mesmo sobre laranjas.
O resto da manhã não teve mais política do que isto: de visita à Congelagos, uma empresa em Lagos que se dedica a congelar e comercializar o peixe que os pescadores normalmente devolvem das suas redes ao mar (já mortos) porque não há mercado para eles, a lider vestiu as tradicionais bata e touca de campanha e foi conhecer as (geladas) instalações. Só mesmo no final, e já depois de ter aquecido literal e figurativamente, se pronunciou sobre o caso político que está a marcar a campanha, num ataque triplo a Augusto Santos Silva, Sócrates e Carlos César.