
As silvas estão lá de novo, viçosas, a trepar o muro inacabado, de tijolo nu, que separa o quintal de Xana do início do Pinhal. A sua casa da Burinhosa, no concelho de Alcobaça, é a última de uma viela estreita. Basta sair da porta metálica azul-turquesa, virar à esquerda e logo os pés pisam areia e o corpo se embrenha na mata nacional. Ali foi sinalizado o ponto zero de um dos incêndios florestais (foram dois) que a 15 de outubro de 2017 reduziram a nada 9476 dos 11 mil hectares do Pinhal de Leiria. E a moradora, de 68 anos, foi acusada da autoria da “queimada dos silvados” que esteve na origem da tragédia. “Então eu lá ia pôr em perigo a minha casa? E às seis e tal da manhã? Estava a dormir, foram os vizinhos que me acordaram. O fogo entrou-me no terreno, olhe ali os pinheiros chamuscados, podia ter ido tudo. O que lhe conto a si disse-lhes a eles, mas mesmo assim fizeram-me arguida”, explica com desconsolo.
Eles, o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Leiria, constroem uma narrativa diferente do que aconteceu há quase dois anos. Na acusação, dá-se como certo que Xana “lançou fogo ao mato e silvas existentes num terreno baldio junto à sua residência” e que “sabia que a sua conduta era proibida pela lei penal”. Alimentadas pelo furacão “Ophelia”, as chamas mantiveram-se vivas cinco dias e percorreram mais de 50 quilómetros para norte, dali à Figueira da Foz.
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