Introdução
O magnésio é um dos constituintes da clorofila, desempenhando por isso um papel muito importante na fotossíntese.
As necessidades deste nutriente são relativamente fracas, em comparação às do potássio, mas não devem ser ignoradas, sob pena de surgirem situações de carência.
A carência deste nutriente é muito frequente em todas as espécies arbóreas, especialmente nas pomóideas e com maior incidência na Macieira.
É bastante notória nas zonas mais húmidas e em solos ácidos.
Esta carência tem uma influência negativa no vigor vegetativo das árvores, na produção e na qualidade da maçã.
O Magnésio no solo:
O Magnésio encontra-se na solução do solo, como ião Mg++, a forma em que é absorvido pelas raízes e também pode estar adsorvido no complexo argilo-húmico.
O Magnésio de troca é mais elevado nos solos francos a argilosos e em climas mais secos, do que nos solos arenosos e nos climas mais húmidos, onde pode ser facilmente lixiviado.
A absorção e o transporte do Mg na planta, pode ser prejudicado pela presença de vários nutrientes (em especial o K e o NH4), por antagonismo iónico.
O período de maior absorção situa-se durante os meses de Maio e Junho
O Magnésio é essencial:
- Na fotossíntese
- Na assimilação e transporte do fósforo
- Na síntese dos açúcares
- Na qualidade dos frutos (Golden)

Sintomatologia de carência:
A sua sintomatologia é bastante específica, ainda que, com algumas semelhanças com a carência do potássio e com a do manganês, com as quais se pode confundir.

Carência de potássio (à esquerda) e carência de magnésio (à direita)
Aparece no verão, nos meses de Julho/Agosto
Atinge as folhas mais velhas com cloroses (figura 1) seguidas de necroses (figura 2) nas internervuras, verificando-se uma queda precoce das folhas.
Nas árvores de fruto, é sobretudo nos ramos onde se concentram mais frutos, que os sintomas são mais visíveis, devido ao facto do fruto ser um grande sumidouro de Mg (Portela, 2007).
Nota 1: a queda prematura das folhas com necroses, especialmente nas Golden, pode resultar de outras causas, como alternância de calor e frio, insuficiente luminosidade e stress hídrico.
Nota 2: as carências graves podem conduzir a menores calibres dos frutos e uma queda dos mesmos, próximo da colheita.
É importante assinalar que, de uma maneira geral, quando os sintomas da carência de Mg se manifesta de uma forma notória, já os desequilíbrios nutritivos são evidentes e a produção quantidade/qualidade já foi afectada.

Figura 1: carência de magnésio com cloroses Figura 2: e com necroses
A análise foliar é uma ferramenta muito segura, para diagnosticar e medir os níveis de carência de Mg.
Os níveis foliares de Mg são um indicador muito utilizado para avaliar o estado nutritivo dos pomares e para confirmar a sintomatologia da carência de magnésio.
Na avaliação desta carência é importante ter em conta as diferentes relações entre o magnésio e os outros nutrientes ( em especial o azoto e o potássio).
Valores de referência para interpretação da análise foliar
Macieira
· Folhas do terço médio do lançamento do ano colhidas entre os 90 e os 120 após a plena floração


· Frutos aos 90 e os 120 após a plena floração
Factores que influenciam a absorção do magnésio
- Natureza do solo, sendo frequente nos solos ácidos e ligeiros com fraca capacidade de troca
- Utilização de produtos acidificantes (enxofre)
- Antagonismo K / Mg
- Sinergismo NO3 / Mg e P / Mg ( S.Trocme e R. Grass)
- A elevação dos níveis de matéria orgânica, podendo favorecer a nutrição potássica, poderá ter um efeito negativo na nutrição magnesiana
Em que casos se justifica a adubação com magnésio
Na presença de sintomas de carência caracterizada em Mg, ainda que esporádica.
Nos terrenos em que se observam carências deste nutriente.
Quando a analise do solo ou das folhas indique uma alimentação insuficiente em Mg.
Nos solos em que se aplicaram adubos potássicos em doses consideráveis.
Como corrigir a carência de magnésio
Um nutriente a aplicar no período do desenvolvimento do fruto, com um grande consumo nos meses de Junho-Julho-Agosto.
As necessidades em MgO são da ordem dos 25 a 35 kg por hectare.
- Nos solos ácidos, realizar correcções calcárias com calcários magnesianos ou dolomíticos, nas doses recomendadas pelos laboratórios de análises de solo.
- Nos solos com baixos teores de Magnésio, aplicá-lo sob a forma de sulfato de magnésio no período do Outono ou no final do Inverno, localizando-o em profundidade, na dose de 100 a 200 kg por hectare de Sulfato de Magnésio.
- Nos pomares carenciados, realizar pulverizações, após a queda das pétalas e até ao início de Julho, com sulfato de magnésio a 16 % (2 kg por 100 litros de agua em duas ou três aplicações) ou nitrato de magnésio (1 kg por 100 litros de água).
Bibliografia consultada
CTIFL, Centre Technique Interprofessionnel de fruits et legumes – Fertilisation des vergers, 1999
CTIFL, Centre Technique Interprofessionnel de fruits et legumes – Le pommier, 2002
GUERRA, António Pedro Tavares Guerra – Algumas considerações sobre a Fertilização das culturas arbóreas, D.R.A.E.D.M., 1986
PORTELA, Ester – Deficiências de magnésio em solos e culturas do norte de Portugal, 2007
TROCME, S. GRAS, R – Suelo y Fertilizacion en Fruticultura, 2ª édition, 1979
Um artigo de António Pedro Tavares Guerra
Engenheiro Técnico Agrário
Licenciado em Engenharia Agro-Pecuária
Formador e Consultor Técnico em Nutrição Vegetal
*Escrito ao abrigo do anterior Acordo Ortográfico
Publicado na Voz do Campo n.º 228 (julho 2019)