Introdução
O Fruticultor deve considerar a Fertilização da cultura, não só em termos de produção do ano, mas também da produção seguinte, de modo a:
· Alimentar a presente colheita;
· Formar os gomos florais para a colheita seguinte;
· Constituir reservas nas raízes e nos ramos para as próximas frutificações.
Além disso, deve respeitar as diferentes etapas da vida da planta:
· Multiplicação celular;
· Estrutura das células;
· Engrossamento do fruto;
· Queda das Folhas.
Nesta última etapa do ciclo anual da planta, que decorre durante o mês de Outubro, em que as folhas terminam a sua fase vegetativa, os nutrientes serão transportados e armazenados nos caules e nas raízes, que depois serão remobilizados na primavera seguinte, para o início do novo ciclo cultural.
Para isso, o Fruticultor deve preparar o ano seguinte, alimentando a árvore após a colheita e até à queda das folhas. Assim, deve colocar em reserva os elementos que ela terá necessidade do abrolhamento à floração do ano que se segue.
Elementos esses que são entre muitos o Azoto, o Boro e o Zinco, mas também o Magnésio, o Cálcio, o Manganês, o Molibdénio e outros.
AZOTO
As necessidades deste nutriente são muito elevadas entre a rebentação e a fase da multiplicação celular do fruto. Daí a importância do azoto nesta fase, proveniente das reservas nutritivas.
A maioria do azoto que constitui as reservas, aumenta de uma maneira considerável, a partir da colheita dos frutos.
Atender aos seguintes factores:
. Teor de Matéria Orgânica no solo;
. Revestimento do solo (gramíneas ou leguminosas);
. Nível de adubação azotada;
. Equilíbrio do azoto com outros nutrientes.

A sua deficiência após a colheita ocasiona:
. Desfoliações precoces, durante a queda das folhas;
. Menor superfície foliar e menor capacidade fotossintética;
. Diminuição do armazenamento de hidratos de carbono nos órgãos de reserva (raízes, tronco e ramos);
. Menor taxa de abrolhamento, de vingamento e maiores quedas fisiológicas no início do vingamento dos frutos.
Solução: Aplicar o azoto após a colheita, na dose de 1,5 a 2 kg de ureia por 100 litros de água.
BORO

Carência de Boro na Macieira


A sua deficiência ocasiona irregularidades no crescimento e floração (polinização e vingamento dos frutos).
A aplicação de boro na pós-colheita tem os seguintes efeitos:

Melhores florações

Melhores Vingamentos
Solução: Aplicar o boro após a colheita ou sobre a madeira, na dose de 0,5 a 1 kg de Borax ou outro equivalente por 100 litros de água (conforme a intensidade da carência).
Esta aplicação no Verão melhora a floração e a frutificação do ano seguinte (melhoria na germinação do pólen, no crescimento do tubo polínico e na divisão celular).
ZINCO
É um elemento que tem influência na formação da clorofila e na síntese das hormonas de crescimento da planta.
Sintomas de carência de Zinco em Macieira (1) e em Cerejeira (2)



A aplicação de zinco na pós-colheita tem os seguintes efeitos:
. Melhoria da diferenciação floral;
. Acumulação de reservas nos órgãos lenhosos para o ano seguinte.
Solução: realizar uma pulverização com sulfato de zinco, na dose de 0,5 kg por 100 litros de água + ureia, na dose de 1,5 kg por 100 litros de água.
A ureia tem uma acção sinérgica na absorção do zinco, o que se torna interessante nas aplicações de sulfato de zinco no pós colheita.
Outras soluções:
Utilizar uma das muitas soluções comerciais existentes no mercado com Azoto + Micronutrientes (Cobre, Boro, Zinco e Manganês).
A aplicação destes micronutrientes na pós-colheita tem os seguintes efeitos:
. Endurecimento, das paredes celulares (acção do cobre);
. Maior lenhificação dos tecidos vegetais, o que impede a rotura das paredes celulares, constituindo uma barreira à entrada das bactérias ( boro);
. Melhor proteosíntese (acção do cobre, zinco ,manganês e molibdénio);
. Melhor resistência ao ataque das bactérias (acção conjunta do zinco + cobre).

Realizar esta adubação foliar antes da queda total das folhas, enquanto as mesmas estão verdes e em plena actividade vegetativa.
A absorção dos nutrientes realiza-se durante todo o ciclo vegetativo, segundo a actividade radicular das plantas. Claro que o período de maior absorção coincide com o momento do maior desenvolvimento radicular e com o crescimento vegetativo principal: floração, vingamento e formação dos frutos. Posteriormente também existe um período de absorção importante no final do ciclo vegetativo, permanecendo os nutrientes absorvidos armazenados na raíz.
Na fertirrigação utilizar:
Utilizar um adubo NPK + Mg, com muito fósforo, no sentido de estimular o sistema radicular, para permitir uma melhor absorção de água e nutrientes.
Em resumo a acção da fertilização pós-colheita consiste:
. Numa melhoria dos arranques de Primavera;
. Numa diminuição da alternância através de uma melhoria da indução floral;
. Num melhor atempamento, traduzido por um endurecimento da madeira e uma melhor resistência ao vento;
. Num reforço da resistência à geada precoce do início do período vegetativo.
Bibliografia consultada:
Andre Loué (1986), “Los Microelementos en Agricultura
CTIFL (1999), “Fertilisation des vergers”.
Guerra, António (1986), “Fertilização das culturas arbóreas”
D.R.A.E.D.
S. Trocme, R. Gras (1979), “ Suelo y Fertilisation en Fruticultura”
Um artigo de: António Pedro Tavares Guerra
Engenheiro Técnico Agrário
Licenciado em Engenharia Agro-Pecuária
Formador e Consultor Técnico em Nutrição Vegetal
*Escrito ao abrigo do anterior Acordo Ortográfico
Publicado na Voz do Campo n.º 230 (outubro 2019)