Projetos Expresso. “Os Nossos Campeões” – que junta Expresso e Novo Banco para dar a conhecer figuras de destaque em diferentes áreas da sociedade – regressa em tempo de crise com uma série de pequenas duplas entrevistas e conferências digitais para revelar os desafios (e conquistas) nos diferentes sectores em que os selecionados se evidenciaram. Esta semana e nas próximas duas, o destaque vai para a indústria agroalimentar, que culminará com um summit digital a 19 de maio, próxima terça-feira. A terceira dupla de entrevistados são António Silvestre Ferreira, administrador da Vale da Rosa e um dos campeões do Alentejo, e Pedro Madeira, sócio-gerente da Frusoal e um dos campeões do Algarve
ANTÓNIO SILVESTRE FERREIRA, ADMINISTRADOR DA VALE DA ROSA
“SENTIMOS QUE A NOSSA RESPONSABILIDADE É ENORME, POIS A ATIVIDADE AGRÍCOLA NÃO PODE PARAR”

Foi difícil tomar as medidas necessárias para fazer face à covid-19?
Os principais desafios são enormes. Como todo o sector da economia, também a agricultura teve, e tem, a necessidade de se adaptar à imposição das circunstâncias da covid-19. Primeiramente, elaboramos um plano de contingência, que demos a conhecer às autoridades de saúde, com o objetivo de minimizar os riscos, e garantir a máxima segurança para os nossos funcionários. Sentimos que a nossa responsabilidade é enorme, pois a atividade agrícola não pode parar! O Vale da Rosa produz alimentos e a missão de garantir os alimentos na mesa dos portugueses é imperativo. Felizmente, até ao momento, estabelecemos um rigoroso plano de contingência que visa, nomeadamente, uma divisão mais restritiva dos grupos de trabalho, uma reorganização da rede de transportes dos funcionários, a criação de isolamento de quarentena – quer preventiva quer terapêutica – o reforço da limpeza dos locais comuns e a adoção do teletrabalho por parte dos funcionários da estrutura administrativa e técnica. Alegra-nos o facto de sentirmos uma colaboração unânime por parte de toda a família Vale da Rosa, que são verdadeiros heróis, pois contribuem de forma decisiva para que o regular abastecimento da cadeia alimentar se cumpra. O sucesso de uma empresa depende essencialmente da equipa! Em articulação com os nossos clientes decidimos reforçar o embalamento das nossas uvas em embalagens fechadas – logo invioláveis – que garantem uma maior segurança alimentar. O embalamento e acondicionamento do produto é essencial para a segurança do consumidor.
Apesar das contingências, acredita numa boa colheita?
Um desafio enorme que a Vale da Rosa tem é garantir que não faltaram uvas Vale da Rosa na mesa dos portugueses. Felizmente, temos tido grande apoio do São Pedro, que não obstante este cenário de pandemia, tem-nos beneficiado com um tempo regular, propício ao bom desenvolvimento da vinha, que nos leva a uma certeza clara: teremos um ano de qualidade excecional! Tudo estamos a fazer para que a campanha 2020, decorra com normalidade. Continuamos a cumprir de forma exigente o nosso plano de contingência, de forma a garantir a segurança de funcionários e consumidores do Vale da Rosa. Uma grande preocupação é garantir os postos de trabalho, não recorrer a lay-off e garantir a mão-de-obra necessária para a colheita desta campanha, onde prevemos ultrapassar os 1000 trabalhadores.
O que está a preparar para os próximos tempos?
O sonho comanda a vida… O desenvolvimento gradual do Vale da Rosa tem sido a concretização de muitos sonhos. Assim sendo, sim! Continuamos a sonhar, o turismo tem sido uma surpresa aliciante! O ano passado recebemos cerca de 15 mil visitas na herdade Vale da Rosa. Estamos confiantes que, no futuro próximo, poderemos abrir portas e assim continuar a surpreender aqueles que nos visitam. Temos também em desenvolvimento a produção e comercialização de novos produtos derivados de uva, como por exemplo as passas os doces, e até mesmo os chocolates com as nossas uvas e passas. Com estes novos produtos que já comercializamos não só acrescentamos valor, como também acreditamos estar perante uma nova área de negócio. Um exemplo concreto é a nossa nova unidade de produção de passas que iremos inaugurar este ano. De salientar, é também o vinagre de uva Vale da Rosa, com passas que têm feito as delícias de muitos e até mesmo de vários chefs altamente reconhecidos. A Fundação Vale da Rosa espera trazer, já este ano, dezenas de luso-venezuelanos que se juntem aos que já cá estão. Estamos certos, até por experiência própria, que farão da nossa região a sua nova pátria.
PEDRO MADEIRA, SÓCIO-GERENTE DA FRUSOAL
“TEMOS TIDO ALGUMA DIFICULDADE COM AS COLHEITAS”

Como é que lidaram com as limitações impostas pelas autoridades de saúde?
Um dos principais desafios que enfrentamos nesta fase é o medo, medo esse que, tal como nos limita, também nos protege de fazermos tudo a que o hábito nos impulsiona. Outro desafio passa pelas novas regras adotadas de redução de pessoal por divisão de equipas de trabalho, com vista à salvaguarda da continuidade de laboração no caso de haver algum caso positivo, o que nos reduz a capacidade de laboração. Também no campo e por a nossa área principal ser a citricultura, temos tido alguma dificuldade com as colheitas, pois o transporte de pessoal teve que começar a ser feito com redução de pessoas por viatura, o que veio dificultar a operação. Todas estas regras vieram encarecer a atividade que, no entanto, tem vindo a ser compensada com algum aumento de preço do produto final.
A produção ressentiu-se?
Em virtude de termos uma atividade ligada à área alimentar e trabalharmos com um produto que sofreu um aumento de consumo, acabamos por não sentir a crise a nível de trabalho ou financeiro, pois tudo continua a funcionar o mais normal possível, embora haja naturalmente uma redução de quantidades provocada por uma grande quebra de produção.
Espera manter o modelo de negócio ou acredita que as alterações são inevitáveis?
O nosso modelo de negócio não passa pela venda direta ao consumidor, mas sim pelo trabalho com a distribuição: visto a nossa tonelagem (aproximadamente 35 mil toneladas), bem como a nossa estrutura empresarial não se adequar a esse tipo de negócio. Além disso, e como já disse anteriormente, não sentimos necessidade de procurar alternativas, visto o nosso produto ter tido um aumento de procura por parte dos clientes.