Com a guerra na Ucrânia e a consequente escassez de cereais, temos de pensar no nosso futuro alimentar. Neste cofre português há mais de 47 mil amostras.
É numa bucólica quinta, em São Pedro de Merelim, a poucos quilómetros da cidade de Braga, que fica o cofre de sementes português, um dos maiores do mundo, que guarda 47 mil. No Banco Português de Germoplasma Vegetal (BPGV) trabalham perto de 30 pessoas e é visível que são maioritariamente femininas as mãos que zelam pela conservação das espécies vegetais. “As mulheres é que são guardiãs de sementes”, diz à SÁBADO Ana Maria Barata, a coordenadora do BPGV.
Mas, afinal, como funciona um banco de sementes? É uma espécie de Arca de Noé, onde há 45 anos se garante o futuro alimentar dos portugueses. Com a invasão russa da Ucrânia, um dos maiores exportadores de cereais do mundo, e a destruição do banco nacional de sementes ucraniano, em Kharkiv, a importância do armazenamento seguro do código genético de es- pécies vegetais tornou-se ainda mais importante.
Em 2021, a Ucrânia foi o principal fornecedor de milho a Portugal, curiosamente foi mesmo esse o cereal que esteve na génese do Banco Português de Germoplasma Vegetal, em 1977. Nesta estrutura fazia-se o melhoramento deste alimento. “Já havia uma base de trabalho, sobretudo porque a conservação de recursos genéticos começou também pelo milho, pela implementação do Programa de Conservação dos Recursos Vegetais do Mediterrâneo, por parte da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Conservamos aqui material da Bacia Mediterrânica”, recorda Ana Maria Barata. O que significa que, se for necessário, o BPGV “pode sempre repatriar” material oriundo desses países.
Mas há outro problema que ficou visível com a guerra na Ucrânia: a dependência estrangeira de bens alimentares de primeira necessidade. É que Portugal produz somente 20% dos cereais de que necessita, e, no caso do trigo, o grau de aprovisionamento não ultrapassa os 4%, segundo dados da Confederação Nacional de Agricultura. “A guerra na Ucrânia pôs a nu a questão do abastecimento dos países, não só em termos de gás e petróleo, mas sobretudo em termos de alimentos. Este é o exemplo mais palpável e real neste momento. Estruturas como a nossa são concebidas para garantir […]