Nota: este artigo foi traduzido do blog The Risk-Monger com a autorização do autor. Para continuarem a par do perigo do ativismo desinformado, aconselho que acompanhem o blog.
Um grupo de “cidadãos” divulgou um Manifesto Ativista sobre como a União Europeia deve mudar todo o processo de avaliação de risco dos pesticidas. Um manifesto… assinado por mais de 100 organizações não governamentais (ONG) e uma dúzia de académicos ativistas…chamando a si mesmos de “cidadãos pela ciência”… exigindo que a Europa mude o seu processo político…com 15 exigências que excluirão a indústria do processo de decisão colocando estes “cidadãos” no poder.
Bem, então é isso. Os cidadãos falaram, então os reguladores têm que os ouvir e o resto de nós deveria estar calado e ir para casa.
Mas quem são esses “cidadãos” que assumiram a responsabilidade de falar por todos nós? Eles auto-denominaram-se: Citizens for Science in Pesticide Regulation (traduzindo: Cidadãos pela Ciência na Regulação dos Pesticidas). Têm inclusive o seu próprio site. Fundos dos contribuintes europeus mais uma vez bem gasto!
Eu analisei a lista de signatários desta grande coligação. Um grande número deles são ativistas comprados e pagos pelo lobby da indústria de alimentos orgânicos, por isso não é de surpreender que queiram mudar as regras para que todos os pesticidas sintéticos sejam banidos. Não há agricultores a representar esta cidadania (OK, os 12 milhões de agricultores da UE pode parecer um pequeno número, mas até agora foram eles que nos alimentaram!). Não há agrónomos assinando o manifesto destes cidadãos – certamente eles teriam algo a dizer, já que são eles que desenvolvem as ferramentas científicas para permitir que os agricultores tenham sucesso. Como eles querem reescrever as regras do jogo de como as políticas são determinadas, esperaria que alguns ex-membros da Comissão Europeia ou funcionários da EFSA defendessem a necessidade de mudar todo o sistema político. Nada!
Parece que quase todos os que assinaram este discurso compartilham o mesmo culto fundamentalista naturopático (natural é bom, sintético é mau, acabemos com a indústria e o mundo vai ser um lugar melhor) e não está interessado em diálogo ou compromisso com outros atores. As pessoas que assinaram esta declaração podem sentir que suas intenções são nobres, mas são tristemente ignorantes ou desinformadas sobre os processos usados na investigação, agricultura, gestão de terras e na política. Mas de alguma forma estes ativistas são arrogantes o suficiente para sentir que podem falar em nome da vasta maioria que seu pequeno manifesto certamente afetará. Esta é a arrogância da ignorância que a comunidade de ONGs de Bruxelas, de mentalidade fechada, adotou.
Este manifesto é pura arrogância, que nasce de uma ignorância sem precedentes. Sem consultar os interessados, sem se envolver com especialistas que possam ter outras visões, estes cidadãos têm a ousadia de declarar um manifesto para banir todos os pesticidas de que não gostam, para excluir a indústria do processo de tomadas de decisão e assumir que eles podem ser um “corpo independente” com capacidade de controlar o processo de avaliação de risco dos pesticidas. E declaram-no gritando com qualquer um que ouse questioná-los – aqueles que discordam devem sair do caminho destes “cidadãos”.
Eu discordei desses ativistas fanáticos no passado e nos últimos dois anos eles fecharam o meu blog, arrastaram-me fisicamente da sua “Assembleia do Povo” e conseguiram demitir-me de um emprego que mantive por dez anos. Pode surpreender algumas pessoas que eu ainda goste de partilhar minha opinião, mas este pequeno manifesto é tão manifestamente errado que, se ninguém se levantar para gritar “Mentira!”, o ignorante terá o seu dia e muitas vítimas inocentes sofrerão as consequências da sua arrogância.
Então, aqui estão algumas ideias iniciais sobre o quão errados estão estes atores ignorantes e por que devemos preocupar-nos quando estes “cidadãos” falam em nome de uma pequena população abastada com interesses ideológicos e não-científicos. Enquanto essas 100 ONGs intimidam e assustam todos que discordam deles, encurralando-as em caixas à prova de som e marginalizadas, os reguladores precisam entender como estes cultos inter-redes operam. Se os burocratas em Bruxelas ouvirem os seus quinze pequenos ditames e deixarem que a sua arrogância e ignorância influenciem a política, então eles terão abandonado a sua responsabilidade perante os verdadeiros cidadãos da sociedade europeia.
O Manifesto Ativista
O manifesto começa com pedindo nada menos que:
“Uma reforma completa dos atuais sistemas de avaliação e gestão de risco de pesticidas é necessária…”
Os ativistas pedem uma “reforma completa” – uma revolução liderada pelo cidadão no processo de avaliação de risco. Porquê? Porque eles não ganharam com o glifosato? Porque as pessoas que não pensam como eles têm voz no debate? Porque os agricultores ainda usam pesticidas e o lobby orgânico está com dificuldades para concorrer? Porque exigem uma reforma completa e não algumas melhorias? Para os ativistas, eles precisam de mudar as regras do jogo para que haja apenas um vencedor. A indústria, a ciência e os agricultores querem melhorar o mundo através da melhoria contínua – ideólogos seguidores de cultos querem revolução e poder. A indústria gasta grande parte do seu tempo tentando cumprir os regulamentos que são “incumpríveis” – estão demasiado ocupados para perceber como as regras do jogo continuam a mudar.
“A. PRIORIZAR A SAÚDE PÚBLICA, O MEIO AMBIENTE E A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
1 – A Comissão Europeia só proporá a aprovação de um pesticida quando todas as provas científicas revelarem que a substância ou o produto final não provoca efeitos nocivos nos seres humanos, nos animais e no ambiente; todas as utilizações propostas pela indústria são consideradas seguras pela EFSA; nenhuma alternativa mais segura (substância ou prática) está disponível.”
Este absolutismo é ridículo e indica a ingenuidade ou a natureza inflexível destes fanáticos. Só pode usar um pesticida se puder provar que “não há efeitos adversos em humanos, animais e no meio ambiente”. Nenhum efeito adverso??? Estas pessoas são tão ignorantes que não entendem que toda atividade humana tem um efeito adverso? Todos os alimentos têm um efeito adverso nos seres humanos – é por isso que temos um processo de digestão que evoluiu ao longo de milénios. É por isso que desenvolvemos outras toxinas medicinais, estudamos a agricultura para limitar esses efeitos. Não ter nenhum efeito adverso nos animais implica um veganismo forçado na Europa, mas mesmo isso tem efeitos prejudiciais. Nenhum efeito adverso no meio ambiente significa que teríamos que abandonar todo o cultivo e voltar a coletar frutos (de maneira jainista). Quem escreveu isto é um cidadão que não pensou muito.
O que é que estes cidadãos consideram uma “alternativa mais segura”? Ter preços mais elevados nas frutas e vegetais não é mais seguro se quiser que as populações consumam dietas mais equilibradas e que diminuam o risco de cancro. Cultivar mais terra devido aos menores rendimentos da agricultura biológica e lavrar com mais frequência para controlar os surtos de ervas daninhas, não é mais seguro para o ambiente. Pura ignorância expressa audaciosamente.
“2 – A Directiva “Uso Sustentável de Pesticidas” deve ser respeitada: os pesticidas devem ser usados apenas como último recurso quando todas as outras alternativas não químicas forem aplicadas e falharem.”
Uhm… o que é uma “alternativa não química”? Os produtos químicos não são feitos pelo homem…o homem é feito de produtos químicos…e assim é todo o resto. Eu entendo que estes “cidadãos” não tenham muita educação científica e entendo o que eles realmente querem dizer é: “Não produzido num laboratório da Monsanto”, mas mostra o nível de ignorância deste manifesto. Eles provavelmente estavam indecisos entre usar uma alternativa “não-química” ou “não-tóxica“, mas suponho que alguém lhes tenha dito que os pesticidas orgânicos aprovados também são tóxicos (“mas apenas um bocadinho e de maneira não ofensiva”). Talvez eles quisessem dizer algo como: “Você só pode usar um herbicida quando ficar sem crianças para fazer a monda manual”.
E o que significa “último recurso” nesta interpretação distorcida do Manejo Integrado de Pragas? No combate ao cancro, só posso tomar medicação como último recurso quando começar a metastatizar? Só depois do sumo de açafrão falhar? Um agricultor deve esperar até que o pulgão tenha comido metade da couve antes da pulverização? As práticas de plantio direto e de cobertura devem ser usadas apenas como um “último recurso” quando o solo superior do agricultor tiver desaparecido? Essa visão distorcida e ignorante da agricultura sugere que os agricultores só podem proteger as suas plantações quando a natureza lhes lança um golpe mortal. Os tratamentos de sementes são projetados para evitar infestações e proteger a planta, evitando sprays foliares mais prejudiciais e menos eficazes. Culturas de cobertura complexas estão a tornar-se ferramentas para inocular o solo contra potenciais pragas, mas somente se elas puderem ser eliminadas com herbicidas. Estas são ferramentas agrícolas sustentáveis e preventivas, mas os “cidadãos” fizeram campanha para deixar os agricultores sem “últimos recursos” viáveis.
Se estes ativistas fanáticos tivessem consultado agricultores, se tentassem entender a agricultura, poderiam parecer menos ignorantes (e menos arrogantes).
“3 – A Comissão Europeia, na qualidade de gestora de riscos, deve funcionar de forma transparente e com responsabilidade. Deve cumprir a sua obrigação sob o regulamento de pesticidas para priorizar a saúde pública e o meio ambiente sobre todas as outras considerações, como o lucro privado. O processo de decisão – as discussões entre a Comissão Europeia e os Estados-Membros, ou qualquer outra entidade – devem ser públicos.”
Esta campanha não é de todo sobre o fornecimento de alimentos. Não tem nada a ver com agricultura. Não é de todo sobre a realidade, mas sim uma ideologia que os elitistas bem alimentados estão a tentar impor aos vulneráveis. Em que ponto uma batalha contra um pequeno risco hipotético causará consequências significativas? Os gestores de risco entendem que os riscos e benefícios estão relacionados e devem ser medidos. Destruir o abastecimento alimentar europeu não ajudará a saúde pública. A eliminação de toda a pesquisa agro-tecnológica (desde a proteção de culturas ao CRISPR) não ajudará na eficiência dos recursos. A criação voluntária da pobreza alimentar não ajudará a economia europeia nem criará oportunidades para os menos afortunados da sociedade.
A atual Comissão Europeia (Selmayr I) criou este monstro abandonando a abordagem de Consulta Inter-Serviços. As decisões que afectam os agricultores, os produtores de alimentos e os consumidores são geridas exclusivamente pela DG Health (do ponto de vista do Hazard), sem qualquer preocupação quanto à forma como a perda de benefícios será tratada. Não é uma questão de lucro, é uma questão sobre se a agricultura europeia será viável, se a comida saudável se tornará um luxo elitista e se a ciência será capaz de inovar para se adaptar aos desafios agrícolas vindouros. Em vez disso, os fanáticos ativistas jogam um jogo de poder…e as ONGs sabem que têm poder numa Comissão Europeia que é incapaz de dialogar.
4- Para permitir que os agricultores da UE melhorem as suas práticas sem serem “punidos” pelos mercados, a Comissão Europeia não os colocará numa posição de concorrência desleal e proibirá os produtos importados que contenham resíduos de pesticidas não aprovados ou que contenham resíduos de qualquer pesticida que exceda os níveis permitidos, sem exceções.
Argumentei sobre isto antes, mas temo que poucas pessoas tenham percebido. A campanha para banir o glifosato na Europa foi uma campanha anti-transgénicos, dirigida por ativistas em Washington. O milho transgénico e a soja podem ser exportados para a UE como ração animal sob um único regulamento. A maioria dos grãos resistentes a herbicidas provavelmente mostrará traços minúsculos de resíduos de herbicidas. Se o glifosato for proibido na UE, qualquer alimento com resíduos deste pesticida será rejeitado na fronteira. Não se preocupe, todos nós recebemos o memorando “Vegan Europe”. Estes “cidadãos” podem ser ignorantes em relação à ciência básica e à agricultura, mas são espertos em obter o que querem (por mais imorais e irresponsáveis que sejam). Somos nós que precisamos de acordar rapidamente.
“B. GARANTIR QUE OS DECISORES CONFIAM EM DADOS COMPLETOS, PÚBLICOS, ATUALIZADOS E LIVRES DO VIÉS DA INDÚSTRIA
5. Os ensaios de segurança dos pesticidas devem ser efectuados por laboratórios independentes e não pela própria indústria de pesticidas. O processo será pago por um fundo financiado pela indústria, que será gerido por um organismo público independente, como a EFSA.”
Adoro esta visão paranóica do mundo subjacente à narrativa anti-indústria. Estes “cidadãos” realmente acreditam que a Monsanto (uma empresa de sementes de tamanho médio que já não existe) está a comprar todos os cientistas e reguladores (eles dizem isso a si mesmos e dessa forma torna-se um “facto”). Nos milhares de páginas de dados de pesquisa produzidos para atender às exigências regulatórias de avaliações de risco de pesticidas, as empresas usam laboratórios independentes. A ciência regulatória não é investigação de ponta, então qualquer empresa com restrições orçamentais (todas elas) faria outsourcing imediatamente. Os reguladores insistiram que a indústria use as Boas Práticas de Laboratório (GLP) aprovadas na década de 1970 e um papel do avaliador de risco é assegurar que as GPL tenham sido seguidas. É surpreendente como estes ativistas ainda não tenham perceberam isso (a menos que simplesmente não queiram). É vergonhoso que os reguladores não os tenham informado e a comunicação social repita essas falsidades.
É giro que os ativistas estejam a preparar-se para a criação de um fundo para “testes de segurança” dos pesticidas. (A propósito, o que será que um “cidadão” não-científico acha que significa “teste de segurança”?) Quem pagará pelos testes e quanto? Será por volume de vendas, impacto, necessidade de mais estudos…? E os aditivos usados noutras aplicações? E quanto ao uso regional? Será tido em conta as listas de alvos dos ativistas? Quando você é apenas um “cidadão”, pode ser-lhe permitido pensar de maneira simplista. O que os fanáticos realmente querem é que o governo tribute todos os produtos de proteção de cultivos agrícolas e dê aos ativistas o dinheiro para decidir o que testar. Eles admitem isso no Ponto 15 deste Manifesto Ativista.
E quanto a determinar se o laboratório é independente, isso é fácil. Se eles não concordarem com os objetivos da campanha ativista, eles não são independentes.
“6 – Para evitar a escolha de dados favoráveis, todos os estudos de segurança devem ser registados com antecedência. Nenhum estudo de segurança que não esteja registado deve ser usado para apoiar a autorização regulatória de um pesticida.
7 – Todos os peritos envolvidos na avaliação de riscos devem estar sujeitos a uma política e regras de conflito de interesses estrita. Qualquer vínculo com interesses comerciais irá excluí-los do processo.
8 – As diretrizes existentes sobre avaliação de risco devem ser totalmente revistas por cientistas independentes, porque em muitos casos foram concebidas e promovidas pela indústria e são tendenciosas em favor dos interesses da indústria.”
Todas estas coisas existem e qualquer pessoa que entenda como funciona o processo de avaliação de riscos da UE diria simplesmente: E daí? Foram estes “cidadãos” ignorantes demasiado arrogantes para consultar a EFSA? Ou eles estavam tentando expandir uma ficção?
Na verdade eu tenho uma questão a colocar sobre isto. Porque é que os ativistas estão preocupados apenas com conflitos de interesse do setor? Eles acham que os seus cientistas ativistas não teriam conflitos de interesse ou são apenas cegamente hipócritas? Fiz algum barulho sobre como o EFSA Bee Guidance Document foi escrito a conselho de um grupo de trabalho que tinha três ativistas anti-pesticidas no painel da EFSA (que haviam escondido as suas afiliações com suas ONGs). Esse documento de orientação sobre as abelhas foi redigido de forma a impossibilitar a produção de dados de pesquisa de campo para atender aos requisitos de avaliação de risco de abelhas. Isso significava que, sem dados, a Comissão Europeia era livre para seguir adiante e aplicar o princípio da precaução para banir três neonicotinóides importantes (e, portanto, “salvar as abelhas da Europa”). A EFSA reconheceu que estes activistas tinham conflitos de interesse não declarados, mas dado que a palavra “Monsanto” não foi utilizada uma vez neste parágrafo, ninguém se importa (e agora os agricultores europeus não podem usar uma das melhores ferramentas de protecção de culturas disponíveis). Eu ainda me importo e acredito que os hipócritas são más pessoas, mas eu sou apenas um cidadão.
9 – Os programas de investigação financiados pela UE devem proibir os indivíduos ligados à indústria de se juntarem a projectos que concebam ou avaliem metodologias de avaliação de riscos.
A caça às bruxas continua – de forma frontal e sem vergonha. Uma pessoa que faça um doutoramento numa universidade que tivesse algum financiamento corporativo (em qualquer nível de cooperação) teria, sob este ditame, 30 anos depois, alguém a dizer-lhe: “Desculpe, você não tem permissão para participar do processo de pesquisa da UE porque você é um shill“. Se uma PME tentasse desenvolver uma nova alternativa ao uso de fungicida nas batatas não seria capaz de compartilhar recursos com a comunidade de pesquisa europeia? O Horizonte 2020 intencionalmente tentou fazer com que a indústria (especialmente as PMEs) participasse e desenvolvesse a investigação por uma boa razão: os investigadores precisam de trabalhar com os inovadores; a tecnologia precisa de investimento para criar oportunidades; e a descoberta não acontece no vácuo. Estas pessoas anti-indústria realmente acharem que a indústria colocada numa estaca em chamas vai ajudar a investigação na UE mostra quão limitadas e ignorantes são as suas capacidades e perspetivas. E quanto aos pesquisadores ligados a ONGs? Também devemos acender as tochas?
10 – Os dados necessários para avaliar se um pesticida deve ser autorizado precisam de ser atualizados com urgência porque os principais efeitos à saúde, como imunotoxicidade, desregulação endócrina e neurotoxicidade do desenvolvimento não são adequadamente cobertos e os impactos nos ecossistemas ambientais são severamente subestimados.
11 – Os dossiers relativos à indústria só serão aceites no processo de autorização quando todos os dados exigidos forem fornecidos, incluindo todas as publicações independentes revistas pelos pares relacionadas com os efeitos do pesticida na saúde e no ambiente. Os pesticidas que não preenchem todos os requisitos do regulamento devem ser banidos.
12 – As formulações de pesticidas vendidos e usados (e não apenas o ingrediente ativo isolado) devem ser testadas e avaliadas em relação a parâmetros cruciais (por exemplo, mutagenicidade, carcinogenicidade, toxicidade de desenvolvimento e desregulação endócrina) relevantes para humanos, mamíferos e todas as espécies não-alvo, como abelhas, pássaros, sapos e minhocas.
13. Os cocktails de resíduos de pesticidas a que os cidadãos da UE estão expostos todos os dias devem ser considerados no cálculo dos níveis de exposição diária “seguros”. Até que isso seja implementado, um fator adicional de “segurança” de 10 deve ser aplicado em todas as avaliações de risco de pesticidas. Este fator adicional de segurança também deve ser aplicado no cálculo das concentrações ambientais aceitáveis de pesticidas.
Há trinta anos atrás, havia dois biólogos, estatísticos e epidemiologistas que fizeram barulho sobre a incerteza dos coquetéis químicos e, desde então, a comunidade ativista tem cantado a mesma música – todos decoraram a melodia, mas não entendem as palavras. O meu jantar esta noite expôs-me a mais de 10.000 produtos químicos, muitos deles combinado de maneiras que a ciência não consegue prever. O meu café tinha mais de 1.000 produtos químicos e dos 22 que foram realmente testados, 17 deles são carcinogénicos para ratos. (Conclusão: Não alimente o seu rato com café!) A exposição a doses baixas a longo prazo de produtos químicos misturados num cocktail que actuem para criar algum efeito desconhecido, de facto, parece assustador…mas a realidade é diferente. Nesses 30 anos aterrorizantes, vivemos vidas mais longas e saudáveis. A nossa comida é mais segura do que nunca. De acordo com uma investigação recente da American AHS sobre os trabalhadores agrícolas, os agricultores são mais saudáveis do que a população em geral. Estes promotores do medo e incertezas não terão sucesso, não ganharão dinheiro e não venderão mais alimentos biológicos se você acreditar nestes factos. Então eles vivem para assustar as pessoas relativamente às baixas exposições de químicos na comida, a promover o medo sobre coquetéis desconhecidos e vendendo teorias da conspiração corporativas. E por 30 anos você acreditou nestes “cidadãos”. Eles até tiverem o trabalho de fazer este pequeno manifesto para tentar assustá-lo um pouco mais.
C. PERMITIR AOS DECISORES, À SOCIEDADE CIVIL E À COMUNIDADE CIENTÍFICA ESCRUTINAR A INTEGRIDADE E A EFICÁCIA DA POLÍTICAS
14. Todos os resultados e dados de todos os testes de segurança dos pesticidas devem ser publicados na internet num formato consistente e pesquisável.
15. As autoridades nacionais devem proceder à monitorização independente pós-aprovação dos efeitos dos pesticidas na saúde e no ambiente. A monitorização será paga a partir de um fundo fornecido pela indústria de pesticidas, mas gerida por um organismo independente. Não deve haver nenhum contacto sobre esses assuntos entre as autoridades de vigilância e a indústria.
Ah, então o que esse grupo de ativistas quer é que as ONGs gerenciem o corpo independente proposto – eles querem o dinheiro e o poder …porreiro! Deve ser por isso que estes oportunistas mentirosos se dizem “cidadãos da ciência”. Eu já vi isto antes e se há algum lobo disfarçado de cordeiro, é este bando de fanáticos hipócritas.
E esta hipocrisia é impressionante. Se estes “cidadãos” pensam e, destruir o processo de avaliação de risco, destruir a agricultura convencional, destruir o abastecimento alimentar e a prosperidade europeia, destruir a confiança na política agro-tecnológica e alimentar da UE e implementando algum sistema naturopático idealista e dogmático governado por um bando de fanáticos fundamentalistas (mas chamado de “corpo independente”), então tenho mais algumas coisas a dizer.
Quem é o estúpido, aqui?
As pessoas que assinaram este manifesto malicioso não são estúpidas, são apenas ignorantes e tristemente desinformadas ou maliciosamente motivadas. Transmitem mensagens entre si, bloqueiam as pessoas que pensam de maneira diferente do que elas e não possuem a educação, experiência ou conhecimentos técnicos para fazer melhor. Eles não conversam com os principais cientistas e agricultores e foram ensinados a não confiar neles (o típico Monsanto “mindset”). Muitos são verdadeiros crentes que querem viver num “mundo sem produtos químicos” e são alimentados com histórias que o seu sonho pode tornar-se realidade por oportunistas astutos e manipuladores com interesses no resultado. Não são pessoas estúpidas, mas para quem controla os fios da marioneta, eles são idiotas úteis.
Os verdadeiros estúpidos seriam os formuladores de políticas e os políticos da UE que lessem cegamente este manifesto e decidissem implementá-lo, achando que ele realmente representa mais do que uma população marginalizada confusa e arrogante. Os meios de comunicação que copiam e colam cegamente os “press releases” sem se preocuparem em obter outros pontos de vista são estúpidos e preguiçosos (mas a maioria deles está simplesmente à espera de conseguir um emprego decente). O facto dos membros da comissão PEST no Parlamento Europeu achem que podem transmitir as suas tolices hipócritas como representantes da voz do “cidadão” sugere que há muitas pessoas estúpidas no poder em Bruxelas. Se os eleitores puderem ser informados, talvez isto se possa tornar um tópico eleitoral.

David Zaruk (Risk-Monger)
Ex-especialista da União Europeia na avaliação de risco e comunicador de ciência
Professor da Odisee University College, onde lecciona sobre Comunicação, Marketing, Lobby na União Europeia e Relações Públicas.