Das montanhas húmidas do Gerês às ilhas-barreira no Algarve, há cenários naturais que vemos desde a infância e que, por isso, julgamos perenes. Não o são.
O quão urgente é o urgente? Alertam-nos para a crise climática há algumas décadas, falam-nos de mudanças irreversíveis e catástrofes ambientais. Não é fácil o exercício de mensurar a urgência quando, à nossa volta, as paisagens permanecem mais ou menos as mesmas. Este é um dos desafios da comunicação ambiental: somos quase sempre os arautos de uma “destruição silenciosa”, como define Paulo Lucas, membro da direcção da associação Zero. Divulgamos dados científicos credíveis, damos espaço a argumentos sólidos, relatamos as previsões de um futuro pouco auspicioso, mas não podemos fotografar as ruínas do futuro.
“São mudanças silenciosas na paisagem, pouco visualizáveis. As coisas estão a ocorrer agora mesmo, mas nós não nos apercebemos disso. Só quando há uma grande tempestade ou um galgamento oceânico é que estes eventos nos fazem reagir. O ser humano é muito reactivo, não é preventivo nem antecipa muito. O ser humano é um animal – os animais também não têm essa perspectiva de pensar muito no futuro, gerem as coisas no dia-a-dia, hoje há comida e amanhã não há comida. Isto é um bocadinho a nossa origem. Mas temos de questionar a nossa sobrevivência enquanto espécie se quisermos continuar por aqui”, afirma o ambientalista Paulo Lucas.
Com a ajuda de Paulo Lucas, seleccionámos cinco imagens de paisagens portuguesas ameaçadas. Das montanhas húmidas do Gerês às ilhas-barreira na Ria Formosa, no Algarve, há vários panoramas no país que tomamos por adquiridos. São cenários naturais que nos confortam a vista desde a infância e, que por isso, julgamos perenes. Não o são. “O que está a acontecer [em termos climáticos] é tão avassalador que as pessoas não conseguem sequer reagir a isto. São coisas que estão a acontecer devagarinho, mas que estão a acontecer: é uma destruição silenciosa”, alerta o ambientalista. […]