
Portugal está entre os dez países que apresentam melhor qualidade do ar, segundo um relatório da Agência Europeia do Ambiente que analisou 41 países. No entanto, todos os anos são registadas mais de seis mil mortes prematuras como consequência da poluição atmosférica, associada a doenças respiratórias e cardiovasculares. “É um problema coletivo que depende de nós a nível individual”, defendeu Filipa Marques, da Associação Portuguesa do Ambiente, durante a intervenção na conferência “O Pulmão e o Ambiente”, que decorre este sábado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
As causas, diz, são muitas e de diferentes naturezas. Entre as principais, as emissões de gases poluentes no tráfego aéreo, fluvial e rodoviário continuam a representar o maior perigo para a saúde pulmonar, nomeadamente para quem vive em centros urbanos como Lisboa ou Porto. No caso da capital, o cenário é curioso. Margarida Lopes, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, que participou no evento, apresentou resultados de uma série de medições à qualidade do ar realizadas em pontos-chave da cidade, que evidenciam uma elevada concentração de partículas e gases poluentes em Zonas de Emissões Reduzidas (ZER). “O dióxido de carbono na Avenida da Liberdade ultrapassa sistematicamente o valor limite imposto pela legislação”, alerta.
Na prática, e apesar de nesta zona ser interdita a circulação de automóveis anteriores a 2000, o trânsito constante e intenso, que tem vindo a aumentar com a pressão turística, acaba por anular a redução de emissões poluentes, o objetivo primordial desta medida.
Saindo da cidade em direção ao meio rural, o elevado número de incêndios florestais assume, também, importância considerável no que à saúde pulmonar diz respeito. Carlos Borrego, professor de engenharia ambiental na Universidade de Aveiro, assinala o pico de incêndios registado em 2017 – que ultrapassou o recorde batido em 2003 – como um sinal preocupante porque as partículas que ali se encontram “são as mesmas que estão num veículo”. Além dos efeitos de curto prazo, que passam por dificuldades respiratórias, tonturas, náuseas ou irritação dos olhos, o verdadeiro malefício está nas consequências a longo prazo, como o decréscimo da função pulmonar ou a hipersensibilidade das vias respiratórias.
Ciente do que “ainda está por fazer”, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, defende que a solução para os problemas ambientais, com impacto direto na saúde dos indivíduos, “assenta essencialmente em políticas intersectoriais que passam por promover o acesso a energias de fontes não poluentes, reduzir o tráfego privado nas cidades e melhorar os transportes públicos”. O responsável político sublinha ainda a importância do papel dos médicos na promoção da literacia junto da população, especialmente para os doentes dos grupos de risco, de forma a sensibilizar para os efeitos nocivos das alterações climáticas. “A Humanidade precisa de um ambiente com saúde”, remata.
“Pulmão e o Ambiente”, organizada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia em parceria com o Expresso, continua durante a tarde deste sábado, altura em que será discutido o tema da saúde ocupacional.