O presidente da Confederação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau, Jaime Boles Gomes alertou hoje que os produtores de castanha de caju estão a vender o produto a preço inferior ao estipulado pelo Governo.
“É muito preocupante, porque na prática não se verifica” o respeito pelo preço, disse à Lusa Jaime Boles Gomes.
A campanha de caju de 2023 teve início em 31 de março e o Governo fixou o preço de referência de compra ao produtor em 375 francos cfa (0,57 euros) por quilograma.
Segundo o engenheiro guineense, muitos agricultores estão a vender a 250 francos cfa (0,38 euros) e outros já venderam a 200 (0,30 euros) e 150 francos cfa (0,22 euros).
“É muito preocupante, porque o preço de 375 francos cfa é um preço de base, de referência, de partida, para situar o produtor, para saber que aquele produto que está a vender vale no mínimo 375 francos cfa”, explicou Jaime Boles Gomes.
O presidente da Confederação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau lamentou que o mercado guineense continue sem um regulador que permita um negócio justo para todos os envolvidos, incluindo agricultor, intermediário e exportador.
“Sabemos que quando se fala do produtor, é a camada social mais fraca e vulnerável e quem deveria acompanhar esta situação e gerir este processo é a autoridade”, afirmou.
Questionado sobre a falta de procura no mercado, Jaime Boles Gomes disse que está a ser provocada não só pela pandemia, mas também pela guerra da Ucrânia e pelo aumento dos preços em geral.
“Isso está a ter impacto nos nossos comerciantes, que estão completamente descapitalizados para pagar o preço de referência. A própria situação bancária não ajuda. Ainda temos milhares de toneladas de caju da campanha de comercialização do ano passado”, disse.
Em 2022, a Guiné-Bissau exportou 185 mil toneladas, tendo ficado retidas 55 mil toneladas, 26 mil das quais foram exportadas entre janeiro e fevereiro deste ano, segundo dados divulgado pela imprensa guineense.
Jaime Boles Gomes apelou ao Governo para intervir e admitiu que as autoridades permitam a venda da castanha de caju pela fronteira dos países vizinhos.
“É preciso criar condições para os comerciantes conseguirem comprar a castanha junto do agricultor. Se não conseguirem fazer isso é uma catástrofe”, disse.
Cerca de 80% da população depende direta ou indiretamente da comercialização da castanha de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) referiu em março que o crescimento económico em 2022 na Guiné-Bissau, que se situou em 3,5%, foi afetado devido a uma diminuição da exportação de castanha de caju.