A LUSOSEM e a AOP -Associação de Orizicultores Portugueses organizam o maior evento nacional do setor do arroz no dia 12 de março, no CNEMA, em Santarém, com o apoio da CORTEVA.
As “Conversas com Arroz” reuniram cerca de 300 participantes, entre orizicultores do Sado, Tejo e Mondego, a investigação, empresas, as indústrias de arroz, as confederações agrícolas, a grande distribuição alimentar, as CCDR das três bacias orizícolas, e o Ministério da Agricultura, representado ao mais alto nível pelo Ministro José Manuel Fernandes, para uma “conversa olhos nos olhos, franca e desinibida”, tal como a descreveu António Sevinate Pinto, CEO da Lusosem, empresa que desde a sua génese está comprometida com a valorização da produção agrícola nacional, e em particular da cultura do arroz.
Com sala cheia, durante a sessão de abertura, António Sevinate Pinto, destacou os desafios atuais do setor, a necessidade de união da fileira com foco na diferenciação e valorização como caminho para garantir um futuro sustentável para a produção de arroz em Portugal.
Manuel Melgarejo, Country Leader Iberica na CORTEVA, expressou o compromisso da CORTEVA com a cultura do arroz, primordial nas suas prioridades de investimento em I&D: “Vamos continuar a investir na cultura do arroz em Portugal, com um parceiro tão importante como a Lusosem, para deixar a terra nas melhores condições possíveis às gerações futuras que trabalhamos”.
O Presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura, reconheceu que vivemos a situação de maior instabilidade geopolítica internacional das últimas décadas, pelo que “a Europa tem, mais do que nunca, que reforçar a sua autonomia de abastecimento alimentar, porque sem soberania alimentar não há nenhuma das outras”. O ex-embaixador disse ainda “temos que ser mais exigentes com os produtos que vêm de fora da União Europeia, e devemos simplificar procedimentos e desbloquear algumas autorizações para os agricultores europeus, por exemplo, a autorização dos drones para uso generalizado na agricultura”.
O diagnóstico apresentado pelo presidente da Associação de Orizicultores de Portugal (AOP), Carlos Amaral, revelou que os produtores de arroz enfrentam 2 grandes desafios: a escassez de substâncias ativas herbicidas para controlar as infestantes da cultura e os custos de produção elevados, agravados pelas margens de lucro negativas em 2024. Segundo estimativas da AOP, a produção encaixou menos 30 milhões de euros na campanha passada.
Um terceiro desafio é o decréscimo do consumo de arroz carolino, que representa 18% do consumo nacional de arroz, apesar de 93% do arroz produzido em Portugal ser desta tipologia. Para Carlos Amaral, a cultura do arroz nacional, precisa de uma maior colaboração entre produção, indústria e distribuição, afirmando que o setor está pronto para enfrentar os desafios, acreditando que, em conjunto, é possível reverter as tendências atuais.
Como inverter a tendência, valorizando a produção nacional?
A resposta está em saber comunicar a diferenciação do nosso arroz carolino, de modo que haja uma valorização efetiva para a produção nacional, e na união de toda a fileira em torno deste desígnio.
“Há trabalho a fazer entre a produção e a indústria para valorizar as variedades de carolino que aportam valor (…) nunca seremos competitivos com variedades indiferenciadas”, defendeu Mário Coelho da indústria Novarroz, acrescentando: “não tenho dúvidas de que assim que a distribuição alimentar se envolver no trabalho de promoção dos carolinos, o seu consumo em Portugal aumentará”.
Apostar na rotulagem, explicando ao consumidor de onde vem, como é produzido e a qualidade do arroz nacional e, por fim, investir em campanhas de promoção é essencial.
A APED, entidade que representa a grande distribuição, respondeu afirmativamente ao desafio: “Há espaço para educar o consumidor, para mais literacia sobre o arroz nacional. Podem contar connosco para fazer uma campanha, tal como já fazemos no setor da batata”, disse Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED.
Um excelente exemplo é a primeira variedade de arroz 100% português que já chegou às prateleiras dos supermercados Continente: “o arroz CARAVELA vai ser o motor de sensibilização para o consumo de arroz nacional”, garantiu Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente.
A parceria entre produção, indústria e distribuição, potenciando a investigação nacional, é o caminho para valorizar o arroz nacional. Vasco Borba, orizicultor e membro da direção da AOP, sublinhou a relevância do trabalho realizado pelas organizações de produtores: “concentrando no fundo a procura conseguimos ter custos mais reduzidos (…) a indústria hoje em dia já vê os agrupamentos como parceiros, no entanto, a falta de uma bolsa de preços bem definida dificulta a negociação de preços justos”. Nesse âmbito, foram apontadas ideias como implementar uma lista de variedades recomendadas, para as quais a indústria poderia ter preços indicativos comunicados antecipadamente à produção. “Será importante, porque perdemos muito dinheiro em 2024, não podemos ter outro ano como este, senão fechamos as portas”, reconheceu Vasco Borba.
No campo, o agricultor precisa de novas tecnologias digitais para uma gestão mais eficiente da cultura do arroz, tais como a Granular Link.ag, a nova app de agricultura digital da CORTEVA, apresentada por Jorge Martinez, Digital & Innovation CORTEVA. Monitorizar as culturas através de imagens de satélite, compreender a sua variabilidade na parcela, e gerar mapas de prescrição mais precisos para sementeira, fertilização e aplicação de produtos fitofarmacêuticos a taxa variável, são algumas das potencialidades desta app.
O Estado tem igualmente um papel importante a desempenhar no apoio da produção nacional de arroz, contribuindo para a soberania alimentar de Portugal. Uma das medidas que a AOP apresentou ao Ministério da Agricultura, e que poderá vir a ser incluída na 4ª proposta de reprogramação do PEPAC, é o apoio à recuperação agronómica dos canteiros de arroz. Esta pressupõe fazer pousio nas áreas mais afetadas pela resistência das infestantes, bem como implementar gradagens ou falsas sementeiras, entre outras boas práticas.
“Hoje deu-se aqui um passo muito importante que é a comunicação entre os vários elos da cadeia de valor da fileira do arroz para encontrar as soluções para o futuro…temos que estar juntos para no dia a dia encontrar o algoritmo ideal para sermos sustentáveis e economicamente viáveis”, afirmou Pedro Pinho, CEO da Suporte Agrícola Lda, orador da mesa-redonda sobre o futuro da fileira, resumindo o propósito bem-sucedido deste evento.
O Ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, participou na sessão de encerramento, afirmando que “a cultura do arroz é estratégica para Portugal, não só pelo seu peso económico e social nas regiões produtoras, mas também pelo contributo para a segurança alimentar nacional”. Neste contexto, referiu que a investigação e a inovação têm dado bons frutos na obtenção de variedades melhoradas de arroz, sendo fundamental para a competitividade da fileira orizícola. Já a estratégia “Água que Une”, apresentada no início de março pelo Governo, é um elemento essencial para garantir a disponibilidade de água para a produção agrícola a médio e longo prazo, prevendo criar mais 30% de área agrícola regada em Portugal com um investimento de mais de 5 mil milhões de euros na sua primeira fase (2025 a 2030).
O Ministro também referiu com entusiasmo a nova estratégia para os cereais, que será apresentada no dia 9 de abril, incluindo medidas concretas para aumentar o rendimento e a resiliência dos produtores, focada na organização do setor e no fortalecimento das cadeias de valor.
As “Conversas com Arroz” terminam da melhor forma, com um almoço degustação do novíssimo Arroz CARAVELA, a primeira variedade de carolino 100% nacional, com o apoio do Clube de Produtores do Continente – MC Sonae.
A iniciativa, segundo Filipa Setas, responsável de Desenvolvimento e Inovação da Lusosem, “visou colocar o Arroz no centro de um debate aberto e de grande proximidade sobre os desafios atuais da fileira e promover um diálogo construtivo para uma visão/estratégia coletiva, demonstrando a necessidade de unir esforços para a diferenciação como caminho para a valorização da produção nacional”. A grande adesão ao evento foi notável, impactante e de grande importância para o desenvolvimento de um setor orizícola nacional inovador, resiliente e alinhado com os desafios do futuro.
A Lusosem e a AOP agradecem a todos os oradores, moderadores e participantes nas mesas redondas pelo seu envolvimento, bem como a todas as entidades que marcaram presença e, particularmente às OP’s e produtores das 3 zonas orizícolas, pela sua forte e dinâmica representação na jornada. Expressam ainda o reconhecimento aos parceiros, IAAS, Voz do Campo, Agroportal e Clube de Produtores do Continente – MC Sonae, pelo compromisso e contributo essenciais ao sucesso do evento.
Fonte: Lusosem