O quadro geral da economia portuguesa no primeiro trimestre é bastante negativo e com tendência para piorar muito mais neste trimestre, pelo menos. O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 2,3% nos primeiros três meses deste ano (face a igual período de 2019), naquele é o pior registo dos últimos sete anos.
Mas há pontos menos maus que vale a pena destacar. Houve mais investimento em aviões (importados, em todo o caso), o sector financeiro e a construção até reforçaram valor, um bocado em contraciclo, mostram os novos dados do INE para o período de janeiro a março. Março foi o primeiro mês a sério da crise.
O governo já disse que a situação deve piorar e, segundo revelou Rui Rio, o presidente do PSD, Mário Centeno prevê uma recessão anual à volta dos 7%, número no qual irá basear o orçamento suplementar ou retificativo, que será conhecido daqui a duas semanas.
Turismo quase paralisado
No meio de todo o descalabro económico e social provocado pelo encerramento de largas partes da economia devido à pandemia (colapso do consumo privado, sobretudo na compra de carros, e nas exportações, por causa da paralisia do turismo).
“É de destacar a diminuição mais acentuada das exportações de serviços”, que afundou 9,6%, “sobretudo em consequência da contração da atividade turística”. As exportações de bens, onde pontuam os automóveis ou os combustíveis, recuaram 2,7% no 1º trimestre, diz o INE.
Mais. A interrupção do turismo, das viagens de negócios e dos eventos internacionais também causa mossa: “o consumo privado no território económico, refletindo a expressiva redução da despesa efetuada por não residentes, registou uma taxa de variação homóloga de -2,2%”.
Investimento evita o pior cenário para já
Ontem, o INE também deu conta de que o investimento efetivamente realizado na economia (Formação Bruta de Capital Fixo ou FBCF) caiu ligeiramente (-0,3%) no primeiro trimestre face ao mesmo período do ano passado, mas a construção parece ter conseguido resistir, ao contrário de outros setores. A importação de aviões também ajudou. O investimento podia ter corrido muito pior, basicamente.
“A FBCF em outras máquinas e equipamentos registou uma diminuição expressiva (taxa de -6,9%), após uma variação positiva de 1% no 4º trimestre”, começa por dizer o instituto.
Já o investimento fixo em construção desacelerou, mas manteve-se em terreno positivo, “passando de uma variação homóloga de 6,1% para 2,6% no 1º trimestre”.
O investimento em equipamento de transporte também contrariou a vaga depressiva da economia: “aumentou 1,5% em termos homólogos, após ter diminuído 11,3% no trimestre anterior”.
Totalmente em contraciclo, esta recuperação deveu-se ao “outro material de transporte, refletindo a importação em regime de locação financeira de aeronaves, que mais do que compensou a redução na componente de veículos automóveis”, refere o INE.
O INE explicou ao Dinheiro Vivo que, embora a entrada de aviões tenha ajudado o investimento, no final esse efeito é ‘comido’ pelo facto de serem importações (subtraem valor ao PIB). “O impacto no PIB é tendencialmente nulo quer em preços correntes, quer em dados encadeados em volume”, afirma fonte oficial do instituto.
Nos setores (medição através do valor acrescentado bruto) destaca-se os que ainda se conseguem expandir. A agricultura não parou de se expandir e somou mais 2,7% no primeiro trimestre, a construção, embora tenha abrandado, conseguiu crescer 1,9%, o sector financeiro e imobiliário, ficou ligeiramente acima da linha de água (cresceu 0,6%).
O resto está mal. A indústria afundou 3,3%, os transportes e armazenagem recuaram 1,3%, o setor que agrega comércio, oficias, alojamento e restauração afundou 4,1%, naquele que é o pior registo das séries do INE, que remontam a 1996.
Menos carros, mais comida
O consumo das famílias, que representa grosso modo quase dois terços da economia, desceu 1,1% face ao primeiro trimestre de 2019. Estava a crescer 2% na reta final do ano passado.
O INE dá conta de “uma acentuada redução (-5,3%)” na despesa das famílias residentes em bens duradouros, “refletindo principalmente uma queda das aquisições de veículos automóveis”.
Já a componente de bens não duradouros e serviços caiu, mas apenas de forma ligeira (-0,7%). O INE assinala que esta moderação reflete “um crescimento mais acentuado na componente de bens alimentares no 1º trimestre”.

Fonte: INE