Portugal é excelente nos seus azeites.
Importantíssimos na nossa paisagem, na balança de pagamentos e na mesa, têm uma superior presença na nossa cultura e economia. A subirem de qualidade de Sul para Norte, podemos experimentar dos melhores da bacia mediterrânica, no interior do país.
A excelência, desde a riqueza dos flavours às concentrações de compostos fenólicos, faz parte do carácter especial dos azeites extraídos das azeitonas dos olivais de Trás-os-Montes, Douro e Beira Trasmontana.
Esta excelência é reconhecida e, por isso, são usados para lotear e acrescentar qualidades a outros, quer por empresas cá dentro de portas quer no estrangeiro, e para modelar muitos dos das variedades maiores em quantidade, mas menores em propriedades que os distingam.
As razões para que as qualidades excepcionais destes azeites sejam mais aparentes e reconhecidas, tem a ver não só com as variedades como a Verdeal Transmontana, Madural, Cobrançosa e outras autóctones, mas também com uma alteração nas práticas culturais dos últimos anos, dos olivais; com o período da apanha da azeitona, que começa mais cedo e se procura esteja terminada antes do fim do Outono; na higiene na sua manipulação; no curto espaço de tempo desde que é apanhada e submetida às operações no lagar; na melhoria nas técnicas de extracção do azeite, combinando velhas mós de pedra com a mais recente tecnologia de malaxagem e centrifugação; no rigoroso controlo do tempo e temperatura destas fases.
Estas boas práticas fazem com que até ao mais principiante dos apreciadores possa ser aparente o frutado verde/maduro, o doce/amargo, o picante, descobrir notas de frutos secos verdes e maduros, de tomate, erva verde, banana, couves cortadas, que conferem a personalidade de cada azeite.
Daí que haja cada vez mais pessoas com esse conhecimento e um ganho de consciência, por parte dos produtores, de que o seu azeite, para cada um “o melhor azeite do mundo”, seja, de facto, ímpar, se for extraído isento de defeitos e puder ter uma boa classificação analítica e organoléptica.
Fazendo tudo bem, do olival até à cuba de decantação ou à filtragem, e à sua embalagem, o azeite de Trás-os-Montes, genericamente, será sempre um virgem extra, com azeitonas que tenham tido um ano bom, ao abrigo da traça, da gafa e da mosca.
Por isso, proliferam marcas de azeite Trás-os-Montes e do Douro com óptimos preços de venda para os produtores e que, para um público com disposição para pagar mais ainda a tranquilidade da sua consciência ambiental, acrescentam no rótulo MPB, Modo de Produção Biológico.
Há nichos de mercado para esses azeites com elevado valor acrescentado, virgem extra, MPB, com PVP elevados, e ainda bem. Mas que representam uma quantidade pequena do volume total comercializado.
De facto, do volume total de azeite extraído das azeitonas na região, apenas uma pequena parte é comercializada nesses nichos de mercado e o seu valor vai directo aos produtores. Porque a grande parte vai para o comércio em geral. Apesar de também ser um bom azeite, virgem extra ou virgem, de azeitonas produzidas em olivais em MPBiológico, de que esse comércio em geral tira partido. Esta grande parte de azeite, apesar da excelente qualidade, não tem uma diferenciação justa no valor pago aos seus produtores.
Aliás, o produtor perde por várias vezes na cadeia de produção destes azeites: no biológico, a fertilização é muito mais cara, os tratamentos fitossanitários mais caros também, e a produtividade de azeitona é muito baixa. No final, a não ser nos tais nichos de mercado, o valor obtido acaba por ser escasso em relação ao potencial. E a compensação dada pelos subsídios em MPB não é suficientemente relevante para compensar a perda da quantidade não produzida.
Referimo-nos aqui ao potencial como a quantidade de azeitonas e, consequentemente, de azeite, que da mesma área se conseguiria se estivesse em modo PRODI, Protecção Integrada, em vez de MPB, Modo de Produção Biológico.
Não defendemos a produção em agricultura convencional desregrada, em que a maximização dos lucros pela quantidade se sobrepõe ao ambiente e em que a qualidade do azeite fica muitas vezes comprometida.
Defendemos a PRODI, em que há salvaguarda do ambiente, com aumento da matéria orgânica do solo e biodiversidade, sistema de rega instalado se possível, qualidade da azeitona excelente, tal como a segurança para o meio ambiente, com a vantagem de que a produtividade por hectare é consideravelmente superior e ultrapassando, pela quantidade, a produção e o valor em subsídio do MPB.
Os olivais em PRODI têm uma maior produtividade por hectare e a rentabilidade dos seus azeites, que oferecem as mesmas qualidades dos azeites em MPB (o MPB é um modo de produção, não é uma garantia de qualidade), rendem muito mais dinheiro ao produtor.
Os azeites devem manter os seus mercados de nicho e, se for um sucesso que pague, o MPB. Mas a maioria dos azeites de Trás-os-Montes do contingente geral de excelentes virgem extra, mas que não se destinam a nichos, poderiam e deveriam ser produzidos em olivais em PRODI.
Trata-se de milhares de toneladas de azeite que a região produziria e exportaria a mais e de milhões de euros mais que poderiam entrar, todos os anos, em Trás-os-Montes.
Consultor e escritor, ex Director Regional de Agricultura e Pescas do Norte, 2011-2018; ex Vice-Presidente do IVV, 2019-2021