A Magos Irrigation Systems organizou o ‘Colóquio Olival e Amendoal- Presente e Futuro’ no dia 30 de abril, na Ovibeja, reunindo cerca de 100 empresários agrícolas, técnicos dos fabricantes de sistemas de rega e representantes das associações de regantes.
João Dotti, CEO da Magos SA, abriu a sessão realçando a importância da partilha de conhecimento sobre regadio, promovida pela empresa, e a propósito da ‘Estratégia Água que Une’ afirmou que “a iniciativa privada deve ter uma palavra a dizer no futuro e no financiamento da gestão da água em Portugal, porque o Estado não pode fazer tudo”.
Na primeira mesa-redonda, sobre o futuro das culturas do olival e do amendoal, o tom foi de otimismo, antevendo-se para o olival um aumento da área plantada e a crescente aposta em olivais em sebe. No caso do amendoal, a reconversão dos pomares com variedades mais adaptadas aos solos e ao clima de cada região e a melhoria do itinerário técnico da cultura serão as tendências para os próximos anos. Os preços da amêndoa e do azeite tenderão a estabilizar.
Mesa-redonda presente e futuro do olival e do amendoal, moderada por Pedro Santos, Consulai
“A inovação foi a alavanca da evolução do olival no Alentejo e a concentração ligada à inovação, porque é necessário ter dimensão, ter escala, visto que a inovação tem custos. Nos próximos anos vamos continuar a assistir à concentração da área de olival nas mãos de grandes grupos empresariais”, disse Pepe Ocaña, administrador da Rabadoa.
“Quem quiser fazer olivicultura tem de vir ao Alentejo, é a região mais evoluída do mundo. 95% do azeite que aqui produzimos é virgem extra e essa qualidade deve-se à tecnologia”, reconheceu Bruno Cantinho, sócio-gerente da Olivogestão. O empresário recordou que o azeite representa apenas 2,7% do consumo mundial de gorduras vegetais e nesse contexto afirma: “acredito muito que o consumo mundial de azeite vai subir, pela sua qualidade organolética e benefícios para a saúde. É uma oportunidade para se plantar mais olival no Alentejo. Espanha vai aumentar e muito a área de olival moderno, reconvertendo os olivais tradicionais de sequeiro em olivais de regadio.”
“Cerca de 80% do olival a nível mundial é de sequeiro, mas cada vez vai haver mais olival de regadio e dessa forma teremos mais estabilidade inter anual na produção de azeitona e de azeite, porque estaremos menos dependentes do clima, prevê-se por isso uma maior estabilidade no preço do azeite”, acrescentou Pepe Ocaña.
No perímetro de rega de Alqueva a área de olival aumentou de 71.045 hectares, em 2023, para 74.059 hectares, em 2024. Já área de amendoal sofreu uma ligeira diminuição, passando de 23.859 hectares, em 2023, para 23.653 hectares em 2024.
Pedro Branco, sócio-gerente da Futuralmond, explicou que a conjuntura depressiva que se viveu nos últimos três anos na cultura do amendoal tende a melhorar à medida que os preços da amêndoa estabilizam. E reconheceu que em Portugal foram cometidos erros técnicos, que podem ser corrigidos restruturando os amendoais. “Se o amendoal for instalado com as variedades certas e for tecnicamente bem conduzido, é uma cultura de sucesso”, afirmou o empresário, aconselhando a não instalar amendoais em zonas marginais em termos de solo e clima. “No amendoal moderno há apenas 6 ou 7 anos de know-how em Portugal, enquanto no olival moderno há 25 anos de maturidade no conhecimento técnico”, justificou.
Na segunda mesa-redonda do colóquio, sobre ‘Emissores de rega para olival e amendoal’, as empresas fabricantes apresentaram tecnologias que contribuem para a distribuição eficiente da água.
Mesa-redonda ‘Emissores de rega para olival e amendoal’, moderada por Pedro Guerra, Magos SA
A Rivulis destacou o gotejador auto-compensante D5000, lançado no mercado em 2010 e que se distingue pela sua boa relação qualidade-preço. A Regaber apresentou o UniRAM da Netafim, gotejador que trabalha a baixa pressão e tem um filtro de 139 mm², o maior do mercado, impedindo o entupimento das tubagens. A Irritec destacou o Multibar F, gotejador plano auto-compensante com labirinto de fluxo turbulento auto-limpante, com opções anti-sucção e anti-drenagem. A AZUD explicou as vantagens da rega gota-a-gota com tubo enterrado, tecnologia na qual foi pioneira, destacando o Premium PC, um gotejador de labirinto extenso. A ITC apresentou novas bombas doseadoras para fertirrigação.
Momento Inovação com Xavier Martinez, ITC
Os fabricantes de sistemas de rega estão a apostar em serviços complementares. A Regaber apresentou a sua plataforma digital https://veggadigital.com/ para apoiar a gestão integral das culturas agrícolas. Já a Rivulis criou o programa Rivulis Climate para facilitar o acesso dos agricultores ao Mercado Voluntário de Carbono, ajudando-os a transitar para práticas de agricultura regenerativa, que podem gerar créditos de carbono, conversíveis em rendimento extra para as explorações agrícolas.
Momento Inovação com Ivo Tomé, Rivulis
Estratégia Água que Une- Perspetivas Regionais
Na terceira mesa-redonda do colóquio, os representantes das entidades gestoras do regadio público apresentaram as suas perspetivas sobre a ‘Estratégia Água que Une’, que prevê um investimento de 5 mil milhões de euros até 2030 para gerir a água na agricultura e no abastecimento urbano em Portugal de forma mais eficiente, resiliente e inteligente.
Mesa-redonda Estratégia Água que Une, moderada por Nélia Silva, Comunicland
José Núncio, presidente da FENAREG- Federação Nacional de Regantes de Portugal, afirmou que a Estratégia é uma boa notícia e tem virtudes, mas deveria ser mais ambiciosa: “Aponta para muitos estudos de novas barragens, mas dos estudos até chegarmos às barragens vai uma grande diferença. E preocupam-me as fontes de financiamento. O PEPAC não tem dinheiro para estes investimentos, mas o senhor Ministro disse aqui hoje na Ovibeja que se pode recorrer ao financiamento dos planos operacionais regionais”.
José Pedro Salema, presidente da EDIA- Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, recordou que “A Estratégia Água que Une não é um pacote fechado. Depende das decisões políticas”.
Atendendo a que a maioria das obras públicas de rega têm várias décadas de existência e necessitam de obras para reduzir as enormes perdas de água, o mais urgente é a modernização das infraestruturas nos perímetros hidroagrícolas. “A Estratégia prevê 95 milhões de euros para a modernização do nosso perímetro. Se pudesse ser executada em 5 anos, ficava satisfeito”, disse Paulo Tomé, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Idanha-a-Nova, que distribui a água aos agricultores em canal aberto num perímetro de 8400 hectares, com as perdas de água a rondar os 48%.
O alteamento da barragem Marechal Carmona, que abastece o regadio da Idanha, está previsto na Estratégia e o seu objetivo é aumentar a capacidade de armazenamento de água e dar mais segurança hídrica aos agricultores. “Atualmente temos uma taxa de ocupação do perímetro de 60%, mas dentro de 2 a 3 anos, com as obras previstas, passaremos para 80 a 85%”, estima Paulo Tomé.
No perímetro de rega do Mira, no sudoeste alentejano, a escassez de água tem limitado a atividade agrícola e os agricultores reduziram o consumo de água em dois terços graças aos investimentos que fizeram para aumentar a eficiência. Em 2024, apenas foram utilizados 5.500 dos 12.000 hectares do perímetro de rega.
Carlos Chibeles, Diretor Executivo da Associação de Beneficiários do Mira, congratula-se com as medidas previstas na Estratégia: a reabilitação do aproveitamento hidroagrícola do Mira, que data da década de 60 do século passado; a nova captação na albufeira de Santa Clara para o setor agrícola, através de um novo sistema de bombagem para chegar a cotas mais baixas; o reforço do sistema de telegestão e a interligação Alqueva-Mira, através da barragem do Monte da Rocha.
Sobre a questão dos transvases entre bacias hidrográficas, José Pedro Salema alertou para a limitação técnica do diâmetro das condutas, que vão estreitando obrigatoriamente desde a origem até ao destino final da água, e deu um exemplo: “Se pensarmos que a água de Alqueva que vai até Santa Clara, através do Monte da Rocha, e depois de Santa Clara para a Barragem da Bravura, em Lagos, quando a água lá chegar são 3 baldes de água”.
Macário Correia, Presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, afirmou que a construção da Barragem da Foupana, cujo estudo está em fase avaliação de impacto ambiental na Agência Portuguesa do Ambiente, poderá ser concluída no prazo de 10 anos. A água da Foupana servirá para substituir a água dos furos usada no regadio entre Moncarapacho e Almancil.
A construção da Barragem do Alvito e a revisão da concessão da Barragem do Cabril, para fins múltiplos incluindo a agricultura, são as potenciais novas origens de água para reforçar o abastecimento ao Tejo e ao Oeste. “O Tejo é a zona de regadio mais importante do país, mas só retemos 20% das afluências de água no rio Tejo”, lamentou José Núncio.
Fonte: Magos Irrigation Systems