Uma sala cheia no Centro de Congressos do Super Bock Arena, no Porto, recebeu a 3.ª edição da conferência “DARE2CHANGE”, iniciativa bienal organizada com o objetivo de refletir sobre o futuro, as oportunidades e os desafios para a competitividade da indústria agroalimentar.
Novos produtos e novas tecnologias de produção, tendências de mercado, sustentabilidade e produtividade foram alguns dos temas abordados.
Startups tiveram a oportunidade de se dar a conhecer aos participantes, com direito a pitch nos intervalos e espaço próprio no evento.
Associações do setor dos lacticínios, das conservas de pescado e das carnes apresentaram alguns dos desafios atuais dos seus setores.
Conferência bienal foi organizada pela PortugalFoods, pelo Colab4Food e pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).
A 3.ª edição da conferência Dare2Change decorreu esta terça-feira no Centro de Congressos do Super Bock Arena, no Porto, e mostrou a força e a capacidade da fileira agroalimentar em crescer, exportar, inovar e antecipar o futuro. Cinco centenas de participantes assistiram aos diversos painéis do programa, entre empreendedores, docentes e investigadores do Sistema Científico e Tecnológico e líderes da indústria agroalimentar portuguesa, com as suas equipas de inovação e da área comercial.
A radiografia exportadora do setor foi feita pelo Presidente da AICEP, Ricardo Arroja, que lembrou que a indústria agroalimentar portuguesa exporta para 186 mercados, com força crescente. Espanha, França, Itália, Países Baixos e Brasil são os principais destinos, responsáveis por dois terços de todas as exportações. Azeite, fruta, vinho e peixe são os principais produtos nacionais exportados, na casa dos €1.000 milhões anuais cada, seguidos dos preparados de frutas e legumes, hortícolas, pastelaria, conservas de peixe, transformados de tomate e águas. Ricardo Arroja aproveitou a ocasião para sublinhar a importância do setor, não só para a captação de investimento direto estrangeiro, como para a coesão nacional, com empresas localizadas em todo o País.
Já Gonçalo Andrade, Presidente da Portugal Fresh, evidenciou também a componente exportadora da fileira das frutas, flores e vegetais, lembrando que as vendas ao exterior triplicaram nos últimos 14 anos – passando de €780 milhões para mais de €2,5 mil milhões. “Este é um setor muito dinâmico, que se adapta aos pedidos dos clientes”, referiu.
A capacidade de inovação do setor tem, naturalmente, contribuído para o aumento das exportações. Hélder Cruz deu a conhecer o exemplo da empresa que cofundou, atualmente sediada no Reino Unido: a Meatly que produz “carne cultivada” – ou seja, um produto de origem celular cultivado em laboratório. O investigador notou que, para concretizar ideias e transformá-las em negócios, é necessário garantir a escalabilidade dos projetos e soluções. O que nem sempre é fácil: “Em todo o mundo, há cerca de 100 empresas apostadas no desenvolvimento de produtos de base celular” e a chegada ao mercado depende, também das questões regulatórias “onde a Europa é a mais protetora dos consumidores, com a legislação mais burocrática de aprovação”. A empresa de Hélder Cruz especializou-se na alimentação para animais de estimação de forma a dar resposta a esses desafios da escala e de sabor. “Os primeiros produtos a chegar ao mercado são alimentos mais processados, como salsichas e hambúrgueres. Conseguir, por exemplo, produzir um filete de peixe obriga a soluções com investimentos altos, que comportam custos que o mercado ainda não aceitará.” Também no âmbito da disrupção alimentar, Ricardo Bonacho, cofundador do Food Design Lab Lisboa e consultor em Food Design e Gastronomia, partilhou a sua experiência de coordenação de projetos, nacionais e internacionais, que aliam conceitos como design, criatividade e inovação no desenho de novos produtos alimentares.
Uma das novidades desta edição foi a realização de painéis específicos das associações representativas das fileiras do leite e laticínios, das conservas de pescado e da carne, que apresentaram temas atuais que estão a ser desenvolvidos no âmbito dos respetivos setores, tais como desmistificar vários preconceitos associados ao consumo destes produtos alimentares, assim como o seu potencial nutricional e económico.
O painel final foi sobretudo dirigido a empreendedores e empresários, com Pedro Moreira da Silva, CEO da Cerealis, a abordar com o maior pragmatismo, a sua visão da agilidade que as grandes empresas devem ter – com destaque para a importância das pessoas nas organizações, a aposta na formação intensa, na competitividade e na criação de marcas. “Sem criar valor, não existe futuro para qualquer empresa” revelou. Lembrou que a filosofia das lideranças e das organizações deve ser centrada nesse ponto. Já José Soares, professor catedrático da Universidade do Porto, comunicador nato, realizou uma intervenção focada na forma como as Pessoas podem melhorar, entregar mais e transformar as empresas.
Amândio Santos, Presidente do Conselho de Administração da PortugalFoods, afirma: “Foi cativante ver uma sala completamente cheia de jovens entusiastas, empreendedores inspiradores, académicos e profissionais da indústria alimentar e das bebidas. Esta terceira edição do Dare2Change mostrou que o setor agroalimentar é estratégico para o país e continua num crescendo do valor das suas exportações. Está a fazer uma aposta na transição digital e na inovação tecnológica, completamente comprometido com os desafios ambientais e com um papel fundamental para a economia circular. A indústria nacional mostrou, uma vez mais, a aposta na inovação e é um exemplo claro de como a dinâmica colaborativa entre academia e empresas, aporta valor: aos agentes económicos, mas também à sociedade em geral.”
O Dare2Change distinguiu também os melhores pósteres científicos, entre os 197 que se apresentaram à conferência, número que para além de ser um recorde, mostra a dinâmica da investigação científica na área alimentar no país. Temáticas como o uso de algas na alimentação, o aproveitamento de desperdício da laranja e da banana para a criação de barras proteicas, a utilização dos oligossacarídeos e o uso de compostos presentes na uva para o tratamento de problemas dentários foram premiadas pela Comissão Científica da conferência. Ao palco, para receberem o prémio, subiram os primeiros autores dos pósteres: José Matheus (Instituto Superior de Agronomia – LEAF, em parceria com a empresa Sumol Compal), Marlene Lopes (Universidade do Minho – CEB e LABBELS e Instituto Politécnico de Viana do Castelo – CISAS), Pedro A. R. Fernandes (Universidade de Aveiro – LAQV-REQUIMTE e CICECO, Universidade do Minho – CEB e LABBELS, Centro de Apoio Tecnológico Agroalimentar (CATAA), em parceria com a empresa Frulact) e Sofia Mariana (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – CITAB, Universidad de Salamanca e A.T. Still University).
Para encerrar o evento, a Super Bock Group apresentou ainda uma cerveja inovadora com groselha acompanhada de um snack de dreche (subproduto da indústria cervejeira) desenvolvido pelo Colab4Food, ao som do saxofone do músico Tiago Lima.
Fonte: Dare2Change