Foi há pelo menos 10 mil anos, nas Honduras, que os humanos começaram a integrar os abacates nas suas dietas alimentares, melhorando-os gradualmente nos últimos 7.500 anos – primeiro, através da seleção de árvores e, depois, plantando essa mesma triagem, com o intuito de se desenvolverem cascas mais grossas e frutas maiores. É a conclusão de um artigo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.
Segundo os investigadores, estas descobertas indicam que a domesticação de frutas neste local começou há milhares de anos, “antes mesmo da chegada de plantas mais frequentemente estudadas, como o milho e o trigo”.
“As pessoas começaram a domesticar as suas florestas e a cultivá-las, isto muito antes de começarem a plantar outro tipo de culturas”, afirmou Amber VanDerwarker, professora de antropologia e autora do artigo.
Os abacates surgiram, pela primeira vez, no México, há cerca de 400 mil anos, tendo inicialmente sido dispersos por vários animais de grande porte que os ingeriam e espalhavam as suas sementes. No entanto, a extinção em massa de alguns dos animais que consumiam esta fruta, deixou os abacates “abandonados” e o seu alcance começou a diminuir. Neste ponto, “os humanos entraram em ação”, afirmou Doug Kennett, professor de arqueologia ambiental e coautor do artigo.
Para este estudo, os investigadores concentraram-se num local no oeste das Honduras, chamado El Gigante. Trata-se de uma caverna de grandes dimensões que os humanos começaram a frequentar há 11 mil anos, vivendo e trabalhando neste local durante gerações, deixando para trás uma ampla variedade de sementes.
Para entenderem a evolução do abacate, os cientistas estudaram dezenas de sementes encontradas neste local, assim como milhares de fragmentos de casca. Para isso, utilizaram a datação por carbono para colocar estes restos em ordem cronológica e mediram as espessuras das cascas, assim como as dimensões das sementes.
Comparar os tamanhos das sementes e da casca ao longo do tempo permitiu que a equipa traçasse como os humanos moldaram esta fruta. No começo, os humanos “apenas colhiam as frutas selvagens das árvores conforme necessitavam”.
Os cientistas detetaram que, ao longo de cerca de 7.500 anos, as sementes iam-se tornando maiores e as cascas mais robustas, sugerindo que os humanos estavam a fazer uma gestão das árvores existentes, podando alguns galhos para impulsionar um maior crescimento das frutas.
Há 4.500 anos, as sementes de abacate estudadas atingiram o tamanho de um damasco e a espessura da casca ultrapassou a variação natural da planta — “um indicador de que as pessoas começaram a guardar sementes e a plantar as suas próprias árvores para tirarem o maior proveito da fruta”, afirmou Amber VanDerwarker.
Para a investigadora, “um dos motivos para quererem cultivar uma casca mais grossa passava pela maior facilidade na recolha da fruta”, adiantando que “há uma enorme probabilidade de os nossos antepassados já comerem guacamole há uns bons 10 mil anos”.
Outros cientistas também já revelaram que sinais semelhantes deste cultivo foram encontrados na Colômbia e no Panamá, com os autores do estudo a adiantarem que, à medida que a investigação continue, mais locais e mais tipos de plantas alimentícias manipuladas pelos humanos há milhares de anos vão ser descobertas.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.