Vinte anos depois de ter começado a encher, Alqueva é hoje uma exceção no panorama das barragens em Portugal. Em tempo de seca, o maior lago artificial da Europa não consegue resolver os problemas do país, mas alivia as preocupações, ainda que existentes, numa grande parte do Alentejo.
Mesmo que não chovesse nos próximos tempos, com 79% da capacidade, Alqueva consegue garantir água para três anos de seca, assegura em entrevista Renascença, o presidente da EDIA – Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas do Alqueva, José Pedro Salema.
Foi para fazer face a estas situações de dificuldade que se contruiu Alqueva, com diferentes valências. Em duas décadas, o empreendimento de fins múltiplos reforçou o abastecimento público a mais de 200 mil habitantes dos distritos de Beja e Évora; vai passar a regar, já na primavera, mais 10 mil hectares além dos 120 mil inicialmente previstos e, na valência energética, as duas centrais hidroelétricas contribuem, atualmente, com cerca de 4% de toda a anergia hídrica em Portugal.
Um sucesso evidente, em particular, na vertente agrícola, com uma adesão surpreendente por parte dos agricultores e de investidores internacionais às novas culturas e técnicas de regadio, com destaque para o olival, o amendoal e a vinha.
Foi a 8 de fevereiro de 2002 que fecharam as comportas da grande barragem do Sul, dando início ao enchimento da albufeira que atingiu, pela primeira vez, a sua cota máxima – 152 metros – a 12 de janeiro de 2010. Alqueva já efetuou por três vezes descargas controladas e, nestas duas décadas, atingiu por quatro vezes o pleno armazenamento de 4.150 milhões de metros cúbicos de água.
Passam 20 anos sobre o encerramento das comportas da barragem de Alqueva, dando início ao seu enchimento. É, certamente, uma data para assinalar?
Claro que sim. De facto, é uma efeméride que é muito relevante, porque marca duas décadas de vida de uma infraestrutura que veio mudar por completo o panorama da região, principalmente no Baixo Alentejo, mas também, aqui, no Alentejo Central, com a chegada da água, que veio trazer inúmeras oportunidades.
Oportunidades em diferentes áreas?
Sim, desde logo, e em primeiro lugar, o regadio, a produção agrícola, com a assistência da água que Alqueva garante. Foi o mudar também o panorama do abastecimento público às populações. Todos nos lembramos, no passado, de ver aquelas situações de abastecimento com autotanques, em tantas vilas e aldeias no Alentejo e hoje essa situação, praticamente, desapareceu. A maior parte dos sistemas estão ligados à garantia da grande mãe da água de Alqueva. Portanto, quando existe alguma carência, é solicitado o reforço, e o abastecimento público é assegurado.
Veio também trazer mudanças na produção de eletricidade. Alqueva é uma gigantesca bateria que pode regularizar e absorver excessos de produção renovável e produzir energia quando é mais necessário em momentos de ponta de consumo.
Veio mudar também o turismo. Com certeza que a presença de um grande lago no interior, veio tornar mais atrativa a visitação, o usufruto do lago, as praias fluviais que se multiplicam, as unidades turísticas, hoje já existem algumas centenas de novas de novas unidades na região, e tudo graças, também, aos planos de água que foram criados com o projeto Alqueva. É um projeto estruturante, aqui no sul do país, e acho que podemos dizer, sem nenhuma falsa modéstia, que é um enorme sucesso.
Já abordou, por alto, as diversas valências deste empreendimento de fins múltiplos. A vertente agrícola é, sem duvida, umas das mais relevantes, inclusive, por ter mudado a paisagem da região. Isto é revelador do interesse dos agricultores e […]