[…] Hoje, o mundo enfrenta muitas crises. Estamos ainda em pandemia e estamos a assistir a uma guerra que põe em causa a paz na Europa e no mundo. A verdadeira dimensão das crises económicas associadas a estes acontecimentos é ainda incerta. No entanto, mesmo perante estes perigos, nenhuma destas crises representa um risco existencial certo como aquele a que nos estamos a expor: o colapso climático.
Nós, humanos, somos normalmente otimistas, focados no presente ou no futuro a curto prazo. Para qualquer necessidade há uma solução, e se não a encontramos, inventamo-la. Melhorámos a nossa saúde e qualidade de vida e desenvolvemos sociedades de bem-estar e infraestruturas globais. Mas este otimismo pode ser perigoso e levar-nos a “não olhar para cima” para consequências da crise climática. Na verdade, algumas já são bem visíveis. Mesmo com grande otimismo, o Relatório do IPPC sobre impactos, adaptação e vulnerabilidade das alterações climáticas (Working Group II) publicado em fevereiro de 2022, é dramático. As alterações climáticas são, neste momento, uma séria ameaça existencial para a humanidade.
[…]
O aquecimento global está a decorrer como previsto há décadas, mas só agora começamos a compreender os impactos. A ausência de chuva no Sul da Europa e Sul Global levará a secas extremas prolongadas. As consequências são perdas de culturas agrícolas generalizadas, incêndios florestais frequentes, perda de solos agrícolas e migrações em massa. A escassez de água e a perda de solos prejudicarão a resiliência alimentar e hídrica, também em Portugal. O abastecimento de água e de alimentos será atingido globalmente, aumentando a sede, a fome. A subida do nível do mar ocorre a um ritmo mais elevado do que o esperado, e as alterações climáticas estão a permitir que doenças tropicais invadam o sul da Europa. As condições meteorológicas extremas, as ondas de calor e as catástrofes naturais tornaram-se já mais frequentes, destruindo habitats e infraestruturas. O custo social global das alterações climáticas deverá ser seis vezes superior ao previsto anteriormente. Estes custos serão muito mais elevados no Sul da Europa.
[…]
O consumo de alimentos de origem local e de base vegetal diminuem a pegada ambiental de água e carbono associada ao transporte e diminuem pressão para utilização de território (por exemplo florestal) para produção agropecuária, especialmente em áreas de fraca governação, protegendo ecossistemas fundamentais para o sequestro de carbono e redução das emissões […]