Volatilidade, incerteza, complexidade e imprevisibilidade são expressões que caracterizam o mundo atual. Torna-se premente imprimir nas sociedades processos de adaptação rápida para ultrapassar as fragilidades vigentes que, nestes contextos e caso nada se faça, se acentuam e podem, até, conduzir ao colapso.
O abastecimento alimentar da Europa e, em particular, de Portugal é uma dessas vulnerabilidades que adquire particular importância dado o carácter básico da alimentação na sobrevivência das populações. Percebe-se, deste modo, que o abastecimento alimentar tenha vindo a tornar-se uma preocupação cada vez mais estratégica da Comissão Europeia e do nosso país.
O nível de autoaprovisionamento de cereais, pela sua importância, é aquele que causa particular apreensão. Numa altura em que a tendência mundial é de aumento do consumo de cereais, Portugal apresenta um dos mais baixos níveis de autoaprovisionamento da Europa (19%, situando-se nos 5% no caso do trigo mole e nos 25% no caso do milho grão), sendo que os cereais representam atualmente 22% do défice alimentar e 19% do défice da balança comercial nacional. E a evolução tem sido negativa com a diminuição, ano após ano, da área destinada aos cereais para grão. Às implicações na segurança e soberania, somam-se assim as componentes económica e, por arrasto, de coesão territorial.
É neste contexto que surge uma Nova Estratégia +Cereais que confirma a importância que o Ministério da Agricultura e o país reconhecem a esta fileira que, recorde-se, exerce uma função fulcral no ordenamento do nosso território e no desenvolvimento das nossas Zonas Rurais de Norte a Sul do país, passando pelos Açores e pela Madeira. A presença dos cereais é transversal a todo o país e é também por esta razão que é fundamental esta Estratégia.
A Nova Estratégia +Cereais, decorrente da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais vigente entre 2018 e 2023, e que foi apresentada esta quarta-feira no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa na presença de muitos agentes da fileira dos cereais e não só, ambiciona contrariar estes números preocupantes e fomentar o aumento sustentado do nível de autoaprovisionamento de cereais em Portugal.
Um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho dos Cereais, coordenado pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), e que junta outras entidades do Ministério da Agricultura e Pescas e as Associações do setor. No seu todo, a estratégia +Cereais define 8 medidas prioritárias e outras 9 medidas estratégicas para fazer frente a um diagnóstico adverso.
As primeiras, e como o próprio nome indica, são consideradas urgentes. Já as segundas são de implementação necessária para um reforço da competitividade do setor cerealífero nacional a curto/médio prazo. Pretende-se, com estas medidas, promover o aumento sustentado e sustentável da produção nacional de cereais através da criação de +Rendimento, +Organização e +Resiliência, com o suporte de +Conhecimento.
Segundo Susana Barradas, coordenadora da nova Estratégia +CEREAIS, «o setor dos cereais é um setor particularmente dependente da conjuntura internacional. O baixíssimo grau de autoaprovisionamento de Portugal, num contexto de grande exposição aos fenómenos extremos decorrentes das alterações climáticas, coloca o país numa posição de grande vulnerabilidade. O risco de não termos cereais para comer existe e por isso é tão importante trabalharmos para o sucesso desta Estratégia».
Ilustrando a dinâmica que tão bem a caracteriza, a fileira dos cereais aproveitou ainda a apresentação da estratégia +Cereais para assinar um Memorando de Entendimento com vista à criação, à semelhança do que já aconteceu para o Arroz, de uma Interprofissional na área dos Cereais Praganosos e do Milho para Grão como forma de valorizar a produção nacional em todos os elos da cadeia, reforçando o diálogo entre estruturas representativas das atividades económicas ligadas à produção, investigação, indústria e o retalho. Este Memorando de Entendimento junta ANPOC, ANPROMIS, APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), APIM (Associação Portuguesa de Indústria de Moagem), Cervejeiros de Portugal e IACA (Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais) num claro contributo imediato para a concretização do objetivo +Organização.
A estratégia +Cereais pode ser consultada no site do GPP
https://www.gpp.pt/images/Producao_e_Mercados/Mercados_Agricolas/ComissaoConsultiva_MA/Estratgia_Cereais_2025_04_09.pdf
Fonte: Grupo de Trabalho dos Cereais