A investigadora de paisagens culturais, Andreia Pereira, defendeu hoje a ecomuseologia como projeto de desenvolvimento para os territórios da transumância desde a Serra da Peneda ao planalto de Castro Laboreiro, nos concelho de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez.
Em declarações à agência Lusa, a geógrafa Andreia Pereira, adiantou que “este vasto espaço geocultural poderá dar escala e projeção a um verdadeiro Ecomuseu da Transumância, constituído por núcleos temáticos distintos, reflexos das singularidades de cada local, múltiplos patrimónios, diversos itinerários culturais e paisagísticos, uma agenda de dinamização cultural e turística comum, um projeto de desenvolvimento agregador”.
“Existem dezenas de brandas, umas em melhor estado de conservação, outras mais degradadas, umas com mais potencial turístico e outras com menos. Todas com uma identidade comum, mas com pontos de interesse diferentes”, disse.
Segundo Andreia Pereira, existe “uma dinâmica semelhante em Arcos de Valdevez, na Branda de São Bento do Cando, onde vai ser instalado um polo científico de apoio à investigação e, mesmo ao lado, a Branda de Santo António de Vale de Poldros, onde a autarquia de Monção também tem intenção de apostar na dinamização do núcleo existente”.
“Há uma convergência de propósitos dos três municípios. É importante que os municípios colaborem entre si e trabalhem em rede. Mais do que um reservatório de memórias, tradições e patrimónios associados à prática multissecular da transumância, a Branda da Aveleira é o território onde se desenham projetos de futuro para as comunidades de montanha desta raia do noroeste português”, frisou.
Andreia Parente, que falava a propósito do primeiro passo dado para a criação do Ecomuseu da Transumância que Melgaço, com a inauguração do Forno da Telha, na Branda da Aveleira, na freguesia de Gave, em Melgaço, adiantou que o projeto assenta na “importância estratégica para a abertura de novos caminhos de desenvolvimento deste território e de valorização da identidade cultural dos povos de montanha do noroeste português”.
Os “ecomuseus, também conhecidos como museus do território ou museu integral, emergem como o paradigma de ação que promove a preservação, e capitalização da memória e identidade, no quadro de um projeto de desenvolvimento integrado, que apenas pode ser efetivado pela mobilização da comunidade”.
O Ecomuseu da Transumância, “tem de crescer e envolver toda o espaço geocultural que se expande entre a Serra da Peneda e o planalto de Castro Laboreiro, dividido entre os municípios de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez e, onde se multiplica a presença de brandas e inverneiras, conferindo-lhe, pelas práticas culturais associadas, uma matriz identitária comum, a qual consubstancia o capital basilar da ecomuseologia”.
Apontou o Ecomuseu do Barros, em Montalegre, no distrito de Vila Real como “um exemplo de boas-práticas, um caso de sucesso de um projeto de desenvolvimento integrado”.
A geógrafa e investigadora de paisagens culturais, Andreia Pereira, realçou que o Forno da Telha inaugurado no dia do Brandeiro, celebrado anualmente a 06 de agosto, “evidencia a autossuficiência das comunidades de montanha no que respeita a técnicas construtivas e à criação de estruturas de apoio”.
“Estas comunidades eram autónomas e autossuficientes, em todas as dimensões, em função do isolamento em que viviam”, sublinhou.
A Branda da Aveleira “tem um grande potencial do ponto de vista do turismo de habitação, que já existe há mais de uma década, com a reabilitação de mais de uma dezena de cardenhas”.
“Para promover um turismo de qualidade e para definir uma estratégia de desenvolvimento para o território só o alojamento é muito pouco. É preciso preservar a identidade, a memória, interpretar e comunicar”, referiu.
A memória da Branda da Aveleira inclui “a paisagem cultural evolutiva e viva, patrimónios construídos múltiplos, desde as cardenhas aos fornos comunitários, documentos históricos e narrativas da história oral”.
“Estes patrimónios testemunham um modo de vida ancestral, pautado pela harmonia e simbiose com a natureza, pela transumância como estratégia de adaptação ao meio e pelo comunitarismo como modelo de sustentabilidade socioeconómica”, destacou.