O secretário-geral do PCP criticou hoje o foco na discussão de cenários e governabilidades antes das legislativas, considerando que alguns só querem discutir a forma para não se falar do conteúdo das propostas.
“Muitos perdem demasiado tempo a querer discutir o futuro – cenários, matemática, governabilidades. Querem discutir a forma todos os dias e nós percebemos bem porque é que alguns só querem discutir a forma, porque ao discutir a forma não discutem o conteúdo”, afirmou Paulo Raimundo, que discursava num jantar da CDU (Coligação Democrática Unitária), em Avões, no concelho de Lamego.
Para o líder comunista, a solução para os problemas dos portugueses “não está na forma”, mas sim no conteúdo, apontando para o caso do impacto da Política Agrícola Comum (PAC) num concelho onde o setor primário ainda tem uma forte presença.
A PAC teve “consequências nos produtores” e na agricultura portuguesa, disse, perguntando quais as diferenças no conteúdo que dividem “PSD, CDS-PP, Chega, Iniciativa Liberal e o próprio Partido Socialista” nessa área.
“Há alguém que apresente uma – eu até arrisco a dizer meia – diferença entre eles para perceber exatamente aquilo que nós andamos a dizer. A questão de fundo não é a forma, a questão de fundo é o conteúdo”, afirmou Paulo Raimundo, acreditando que, nas questões fundamentais, como no caso da PAC, “não há nada que os separe”.
Nesse sentido, acredita que a 18 de maio, há uma opção entre a submissão “aos apetites de Bruxelas ou escolher a soberania nacional”, entre os lucros das grandes empresas ou ajudar as micro, pequenas e médias empresas.
Sobre o interior, Paulo Raimundo criticou aqueles que fazem “bonitos discursos sobre o interior, mas que, na prática, são os responsáveis pelo encerramento dos postos dos CTT, pelo encerramento das finanças, da Segurança Social, dos serviços públicos no geral, dos postos da GNR”.
Perante uma sala pequena para o número de presentes em Avões, Paulo Raimundo recordou também o tempo em que aquela pequena freguesia de Lamego já foi liderada pela CDU, esperando que possa voltar a esta aldeia para comemorar a recuperação da liderança da freguesia.
Luís Mendonça, antigo presidente da Freguesia de Avões pela CDU e o primeiro a discursar durante o jantar, afirmou que todos têm obrigação de transmitir aos netos e filhos “o que representa a CDU” e também as dificuldades sentidas durante a ditadura.
“Eu sou do tempo em que não havia luz nesta terra, em que vivíamos numa casa onde não havia sequer uma janela para respirarmos. Eu sou desse tempo e não quero voltar a esse tempo e temos a obrigação moral de tentar transmitir esta mensagem aos nossos netos. Eu sinto um grande orgulho dos meus netos estarem aqui presentes porque sentem o que foi isso”, afirmou.
No final do discurso, lembrou a sua avó materna, que era abordada na altura das campanhas, sentada à beira da estrada, e que se afirmava comunista.
“’Olhe, os meus netos querem tudo de bom para mim e se eles são comunistas eu também sou com grande orgulho’, dizia ela”, recordou Luís Mendonça, no jantar da CDU que decorreu na Associação Desportiva de Avões, coletividade criada poucos meses depois do 25 de Abril.