
Investimentos de milhões, hectares a perder a vista, ensaios, novidades e dúvidas. Será que vai ser sempre uma cultura rentável em Portugal?
Portugal pode representar ainda uma pequena percentagem no contexto da produção mundial de amêndoa, onde os EUA se mantêm o líder destacado, mas é inegável que se trata de um setor em crescimento.
Juntaram-se vários fatores, como a disponibilidade de água, clima, solos, a boa localização geográfica do país e bons preços de produção, entre muitos outros, que suscitaram o interesse, tanto de investigadores nacionais como estrangeiros. Já não são assim tão isolados os casos de grandes investimentos de grupos internacionais que vêem na cultura da amendoeira uma boa fonte de rendimento e há até quem queira fazer de Portugal “um importante player no setor dos frutos secos na Europa”.
Não é que a cultura seja propriamente nova no nosso país, bem pelo contrário, é uma cultura tradicional, nomeadamente no Algarve e Trás-os-Montes e Alto Douro, como se pode ler mais à frente num artigo do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS). Mas também no Ribatejo há registo da existência de amendoeiras pelo menos desde o séc. XVIII, tradicionalmente de sequeiro e por regra ao longo das estradas e a delimitar as extremas das propriedades.
Por várias razões, nomeadamente a disponibilidade de terra e de água, é no Alentejo que a área da cultura tem crescido mais rapidamente, mas ainda assim, citando o CNCFS “a produção de amêndoa na região Norte representa 81,23 % do total da produção portuguesa de amêndoa”.
A maior parte dos amendoais estão em fase de crescimento e na entrada da produção plena, ao que paralelamente se têm associado unidades de transformação.
Face à dinâmica registada na plantação de novos amendoais no Aproveitamento Hidroagrícola do Roxo, a Associação de Beneficiários promoveu a criação da empresa Campos do Roxo, a qual em 2017 obteve o reconhecimento de agrupamento de produtores de frutos de casca rija e em virtude do crescente volume de produção, entrou em funcionamento em 2018 uma unidade de receção, limpeza e despelagem de amêndoa, localizada no Centro Tecnológico e Agroalimentar do Roxo. No vizinho município de Ferreira do Alentejo a MIGDALO abriu portas em 2017, para transformar a amêndoa própria e a de outros produtores do Alentejo e a Veracruz, empresa luso-brasileira que está a investir fortemente na Beira Baixa já estuda a melhor localização para a unidade que irá receber as centenas de toneladas que os cinco mil hectares de amendoeiras previstos irão produzir. E isto só para citar alguns exemplos.
Ao que tudo parece indicar não haverá grandes dúvidas que estão reunidas todas as condições para este vir a ser um setor de grande sucesso. Todavia, José Maria Falcão, um produtor de Monforte, e que terá sido pioneiro na plantação de amendoais superintensivos em Portugal, admite que ainda há falta de conhecimento técnico sobre este sistema de condução e desde que começou (2014) até agora, mudou praticamente tudo na forma de fazer a cultura. Aos novos produtores deixa o alerta de que “não é uma cultura fácil, tem problemas sanitários complexos, adubação e rega com fases muito críticas (…) e por outro lado, aconselha igualmente os produtores a associarem-se num agrupamento pois não é compatível cada exploração possuir uma unidade de processamento industrial.
Já o investigador do INIAV, Rui Maia de Sousa, é da opinião que a cultura será rentável enquanto continuar o preço atual. Por outro lado, é preciso atenção constante à evolução da cultura e aos seus requisitos. Precisa de água (rega) para obtenção de produções rentáveis, e exige luz no interior da copa para se manter produtiva.
Para ler na Voz do Campo n.º 229 (ago.set.2019)