O presidente da Câmara de Nelas diz que “o vinho tem de ser uma prioridade nacional” e que a fileira “merece uma atenção especial do Governo”, sustenta Joaquim Amaral.
O Praça do Município, em Nelas, recebe de 5 a 8 de setembro, a XXXIII Feira do Vinho do Dão, um evento imperdível para os amantes de vinhos e da cultura vinícola. Durante a feira, os visitantes têm a oportunidade de degustar os melhores vinhos, conhecer produtores locais e da região, e desfrutar de uma programação repleta de
atividades, incluindo palestras, workshops, exposições, teatro e música ao vivo, showcookings e gastronomia regional. O certame, promovido pela Câmara de Nelas, junta este ano 40 produtores.
O presidente da Câmara de Nelas diz que este “não é um evento” do concelho, mas de toda a região do Dão. Joaquim Amaral, à Gazeta Rural, admite rever a data do evento, uma vez que as alterações climáticas anteciparam as vindimas e há produtores que não podem participar no evento, tendo em conta esse facto, mas também por falta de mão de obra. O autarca de Nelas sustenta a necessidade de um novo olhar para o setor, considerando que “o vinho tem de ser uma prioridade nacional”.
Gazeta Rural (GR): Quais são as perspetivas para a Feira de Vinho do Dão deste ano? Joaquim Amaral (JA): Estarão presentes 40 produtores. Temos a flexibilidade de incluir mais alguma, quase, até à última. Com as alterações climáticas, o período das vindimas mudou radicalmente, o que quer dizer que nesta data, que era propícia para a Feira do Vinho, já há muitos produtores a fazerem a vindima. Há produtores mais pequenos que não vão à feira porque estão a fazer a vindima e têm dificuldades de mão de obra.
Se até à feira algum produtor aparecer não dizemos que não, porque temos de ter esta abertura. A Feira do Vinho é dos produtores, dos enólogos e de toda esta gente fenomenal que temos na nossa região, que faz este produto endógeno de excelência.
GR: Em face do que disse, a mudança da data da feira pode ser repensada?
JÁ: Acho que sim, eventualmente. Porém, há duas questões que são particularmente importantes. Uma é que já está bem presente na memória de muitos visitantes, mais aqueles que vêm das várias latitudes do país, que a feira se realiza no primeiro fim de semana de setembro. Se mudarmos isto, mudamos o que é a consolidação que já está feita de uma data. O assunto foi debatido com os produtores. Desde o início deste ano, que ‘construímos’ a feira com os produtores e fizemos reuniões para irmos cada vez mais ao encontro deles. Mas a feira deixou de ser pensada pelo município para ser um evento que está irmanado com os produtores e com os enólogos. Nós reunimos e ouvimos sugestões. Há uma mudança, nos stands e na imagem da feira, desde a parte técnica, importantíssima, em que fomos ao encontro do que eles nos pediram, desde os frios, a nebulização e a climatização dos vinhos. Questões técnicas importantíssimas que asseguramos, para ir ao encontro do que os produtores nos pediram.
Na sessão técnica, na quinta-feira, que conta com a presença do secretário de Estado da Agricultura, vamos falar de problema que existem na fileira, que são as questões do financiamento, o novo PEPAC, que está a arrancar, mas também as grandes questões, que se aplicam a todas as regiões, que tem a ver com os apoios à destilação, que está associada ao facto de haver um excedente de vinho que os produtores não estão a conseguir colocar no mercado, embora tenham aumentando as exportações.
GR: A fileira do vinho deve ser repensada?
JÁ: As questões financeiras têm de ser repensadas e o vinho tem de ser uma prioridade nacional, porque à volta desta fileira, há não só os postos de trabalho que gera, diretos e indiretos, mas tudo o que gira à sua volta, como a fixação de pessoas no território, que afirma o próprio país no turismo.
A gastronomia, o enoturismo ou o turismo de natureza estão associados a um manancial grande de receitas para o país e para as diversas regiões. A fileira da vinha e do vinho merece uma atenção especial do Governo, e dos responsáveis de uma forma geral. Para que isso aconteça é necessário dar condições ao Instituto da Vinha e do Vinho para que haja uma maior fiscalização sobre o vinho que vem de outros países e todas as questões que agora são recorrentes.
GR: Voltando à feira. O que destaca da programação?
JA: Temos um programa cultural fabuloso, diversificado, que é um misto. Há uma peça de teatro feita exclusivamente para o vinho, com a Contracanto, que regressa na sexta-feira e no sábado. Depois temos o Camané no domingo, numa harmonização que foi feita do programa cultural, mas também com exposições de fotografia, de pintura e de escultura, com os artistas plásticos convidados de todos os concelhos da região do Dão.
A feira é em Nelas, mas é a Feira do Vinho do Dão de todos os concelhos, de todos os produtores da região demarcada. É isso que queremos cada vez mais e que essa ideia não seja posta em causa. O que fazemos não é uma festa do vinho de Nelas, é a festa de todo o vinho do Dão.
Vai na sua trigésima terceira edição, é a feira mais antiga do Vinho do Dão e, quiçá, a mais antiga. Tem todas as condições para, juntamente com os produtores que são a essência do vinho, transmitir um programa cultural fabuloso e gastronómico.
No enoturismo, vai haver visitas a produtores de diversos concelhos, provas rápidas, que são momentos acompanhados também pelo Luís Lopes, o nosso conselheiro vínico da Feira, e com enólogos convidados, que farão apresentação de vinhos num local central da Feira do Vinho.
No que concerne ao apoio para aquilo que é a diferenciação de mercados e novos mercados, temos já confirmada a presença de dois embaixadores e o cônsul de um outro país que vão estar na Feira do Vinho. O que pretendemos é dar a conhecer o vinho do Dão, num espectro mais alargado, e criarmos possibilidades de mercado.
O embaixador do México foi o primeiro a aceitar o repto. Estamos a falar de um país com uma população altíssima, que tem uma possibilidade grande de penetração do nosso vinho do Dão. É uma necessidade arranjarmos mais mercados e mais distribuidores. Teremos também presentes winebloggers e influenciadores ligados a esta fileira.
O nosso grande objetivo é que a feira seja também uma festa do vinho do Dão, com muitos produtores com os seus vinhos, mas que seja também uma feira que aporta valor aos produtores. O ano passado foi um dos melhores anos em termos de venda dos vinhos, segundo os próprios produtores. O objetivo é também a criação de novas cadeias de distribuição e de venda, para que possamos exponenciar ao máximo todo o vinho produzido, em particular na nossa região do Dão.
O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.