João Vaz
Emociona-me o olhar triste destes pobres camponeses moçambicanos. Lançaram as sementes à terra na certeza que as chuvas de dezembro e janeiro iriam surgir. Há seculos que é assim.
Mas, nos últimos anos, chove pouco e erraticamente. Sem água, as sementes não germinam, as pragas são mais intensas (gafanhotos) e os agricultores estão mais pobres e desorientados.
No município da Ilha de Moçambique as árvores estão em stress hídrico, folhas enrugadas e castanhas. O sol é ainda mais forte do que é habitual. Inclemente, destrói as culturas hortícolas antes de conseguirem crescer. Os miúdos vão escapando à subnutrição comendo a fruta da época (mangas).
O Governo de Moçambique apela a que todos façam agricultura “uma família, uma machamba (horta)”. Um objetivo consensual que esbarra no “reality check”: as sementes são caríssimas, os fertilizantes quase inexistentes e também caros. O sistema de agricultura familiar não consegue competir com os produtos importados, muito mais baratos dado o efeito escala e subsídios que a União Europeia, Japão e os Estados Unidos concedem aos seus agricultores.
Enquanto as alterações climáticas agudizam os problemas dos países pobres do hemisfério sul, os americanos elegem um presidente que irá defender os “interesses dos ricos”. O desespero dos agricultores moçambicanos, e dos milhões de pessoas que sofrem os efeitos da seca crónica na África Oriental, são quase irrelevantes e marcam apenas os rodapés dos noticiários.