O Eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral defendeu, no âmbito da Conferência “Bio-regiões: Uma oportunidade única para a revitalização rural”, que coorganizou no Parlamento Europeu, que “as bio-regiões são fundamentais para o desenvolvimento da nossa ruralidade. Mais de 80% do território europeu são zonas rurais. E por isso têm de ser valorizadas. As bio-regiões são um excelente exemplo, envolvendo todos os intervenientes de um modo coordenado, de uma forma que liga a produção, que liga o consumo, que liga as autoridades regionais, nacionais, as autoridades locais, criando aqui uma lógica de ecossistema e de comunidade, numa abordagem de baixo para cima”.
“Precisamos de criar valor, e com isto criar valor adicional para os agricultores. Precisamos trabalhar com os agricultores e colocar a agricultura na primeira linha de defesa da nossa segurança e autonomia, agora que defendemos, a nível europeu, a necessidade de autonomia estratégica. Não faz sentido quando falamos de armas, tanques, e nos esquecemos das coisas mais importantes, que é colocar comida na mesa dos europeus”, adiantou Paulo do Nascimento Cabral, levantando ao mesmo tempo várias questões relacionadas com a renovação geracional: “Quem vai produzir essa comida? A média de idade dos agricultores em Portugal é de 64 anos. Na União Europeia é 57. Então, imaginem em 10 anos, quem vai produzir os nossos alimentos? Quem vai produzir o que comemos? Vamos importar tudo? Ou temos condições aqui para promover a atratividade do setor e trazer mais jovens? Agora, os tempos são tão difíceis que já não defendo só a renovação geracional. Defendo que temos de trazer novos e menos novos para o setor agrícola. Precisamos de todos”.
Paulo do Nascimento Cabral sublinhou ainda a necessidade de se “criar a ideia no consumidor de que a produção biológica precisa de uma remuneração justa. Infelizmente, e de acordo com os últimos dados do Eurobarómetro, no processo de compra dos europeus, pela primeira vez, é o preço que conta. Não a qualidade, não a aparência, mas sim o preço”.
“Precisamos de ir ao encontro das necessidades dos consumidores, criar cadeias curtas de abastecimento, diminuir as emissões, criar um ecossistema que permita termos uma proximidade entre quem produz e quem vende. As bio-regiões são, portanto, fundamentais para conseguirmos alcançar este princípio”, afirmou o Eurodeputado do PSD, acrescentando ainda que “a produção biológica na União Europeia está a crescer. Sou dos Açores, e posso dizer que nos últimos quatro anos a produção biológica mais do que quadriplicou. E isso é muito importante, porque é uma forma sustentável de produção, que respeita ainda mais a natureza e o ambiente, que respeita a participação de todos os intervenientes, e permite, espero, uma remuneração justa para os agricultores”.
Paulo do Nascimento Cabral salientou igualmente a questão da herança cultural. “As bio-regiões também têm essa preocupação com a nossa herança cultural. Temos uma tradição que tem que ser mantida e respeitada, pelo que tornar tudo igual em todo o lado, não faz sentido. Faz sentido sim que cada bio-região tenha a sua especificidade, as suas próprias produções, respeitando as suas próprias idiossincrasias, naquilo que tem a ver com a integralidade do território”.
“E, por último, a valorização através das políticas públicas. É fundamental que os decisores políticos percebam a importância e o alcance das bio-regiões. É fundamental termos a consciência de que com as bio-regiões nós conseguimos promover territórios e ter uma melhor utilização dos fundos públicos. As bio-regiões podem contribuir para a garantia da sustentabilidade da produção agrícola, e o respeito integral pelo ambiente. E tudo isto em proximidade com as comunidades locais. É um processo de baixo para cima (“bottom-up approach”) e não imposto de cima para baixo, que é o que normalmente aqui acontece. As bio-regiões são, portanto, um excelente exemplo, e eu queria destacar aqui também o caso português de Idanha-a-Nova, que foi a primeira bio-região no país, e temos também agora a mais recente entrada para a rede de bio-regiões que são os Açores, nomeadamente as ilhas de São Jorge, Pico e Faial”, concluiu Paulo do Nascimento Cabral.
A conferência, que reuniu decisores políticos e especialistas em bio-regiões de Portugal, Suécia, Itália e Tunísia, foi organizada pelo Eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral, em parceria com a IFOAM Organics Europe, e centrou-se no objetivo de demonstrar de que forma estas iniciativas podem apoiar os agricultores europeus, reforçar a biodiversidade, revitalizar as zonas rurais, consagrar o “direito a ficar”, e promover uma alimentação pública saudável, local e biológica.
Fonte: Gabinete do Eurodeputado Paulo do Nascimento Cabral