Viram as imagens e vídeos que publiquei nos últimos dias, na minha página de Facebook, com milho caído, tratores enterrados na lama e milho cortado à mão e metido “à posta” para a máquina de ensilar? Pronto. Agora já sabem de onde veio a minha “mania” de semear e colher o milho na data mais cedo possível.
Há uns 40 anos, mais coisa menos coisa, andei eu assim a ajudar a família. Tenho bem vivas as memórias, dos anos 80, de milho caída na “Bouça Aberta”, um campo junto às bouças (“bouças” é como chamamos às parcelas de floresta aqui no Norte, ok?), de pedir o Fiat 640 do Tio Carlos Penas para rebocar o nosso Massey Ferguson 265 no Campo da Ribeira do Loureiro enquanto ensilava o milho, de passar dias a cortar, arrastar e meter o milho à mão na máquina, na “Arroteia de Baixo” e, já no ano 2000, no primeiro ano que veio a máquina grande cortar o milho (a automotriz), no dia 5 de outubro, ter de parar a máquina um bocadinho antes de enterrar e deixar uns 2000 m2 para depois desfolhar à mão, com galochas, no meio da água. E ainda as memórias de agricultores vizinhos que perderam braços e pernas com as máquinas de ensilar por causa do milho caído. É para fugir a tudo isso que “ando cedo”.
“Andar cedo” tem ainda outras vantagens: fugir aos ataques da bicharada (insetos do solo) que costumam ser mais intensos nas sementeiras tardias, por causa das temperatura mais altas, aproveitar as chuvas tardias da primavera (que este ano se estenderam até julho) para poupar nas regas e “apanhar” a máquina de ensilar mais disponível, com as facas novas e os condutores com a cabeça ainda fresca. E ter a comida dos animais disponível mais cedo.
Porque cada moeda tem cara e coroa, também há desvantagens, por exemplo: já me aconteceu ter a terra pronta para semear e não ter ainda adubo ou sementes disponíveis; tenho de colher a erva da produção de outono – inverno mais cedo e com menos produção do que se esperasse pelo fim de abril ou maio para cortar; há algum risco de vir chuva ou uma cheia tardia e ter de repetir a sementeira (mas ainda não aconteceu); e porque “o primeiro milho é dos pardais”, ter que usar repelente para evitar o desbaste que as pegas fazem em algumas sementeiras de milho.
Alguns “truques” possíveis para conseguir “andar mais cedo” com as colheitas e sementeiras” (haverá outros, certamente):
- Na sementeira da erva no outono, escolher espécies e variedades e misturas mais precoces;
- Aproveitar os primeiros dias de bom tempo no fim de março ou início de abril;
- Começar pelos campos mais enxutos e deixar os “lameiros” para depois;
- Na sementeira do milho, nos “lameiros”, andar cedo nas partes de cada campo onde é possível e deixar os bocados mais encharcados para semear mais tarde com um ciclo muito curto;
- Usar variedades de milho com ciclos mais curtos;
- Deixar a limpeza das bermas dos campos (as “beiradas”) para depois de cortar o milho;
- Fazer a adubação do milho no semeador (à linha) e depois na cobertura;
- Fazer a “monda química” depois do milho nascer;
- Na altura das colheitas e sementeiras, trabalhar de madrugada, de dia, ao serão, ao domingos e feriados (depois descansa-se);
- Recorrer aos prestadores de serviços para fazer mais rápida a lavoura ou sementeira;
- Observar o que fazem os vizinhos, pedir conselhos aos técnicos, experimentar e “esticar” a corda cada ano um bocadinho mais cedo.
- Adiantar o que é possível, encomendas, revisões, lubrificações.
- Não ficar com a ideia: “Ah, vocês aí à beira mar tem campos com areia e andam todos cedo”. Não. Aqui entreos meus vizinhos também há quem ande cedo, a meio e tarde. Aliás, recorrendo aos prestadores de serviços, não podemos andar todos ao mesmo tempo. “Quem não tem carros nem bois, é antes ou depois”. E cada ainda é livre de semear quando quer na sua casa e na sua terra.
truques de “andar cedo”Espero ter-vos ajudado e não enervado mais, como diz um amigo quando publico as fotos das primeiras colheitas ou sementeiras: “Já andas a enervar o pessoal!”. Não é de propósito! Bom trabalho!
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O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.