O “compasso” ou “visita pascal” é uma tradição do dia de Páscoa, no Norte de Portugal, organizada em pequenos grupos que em cada paróquia levam um crucifixo ornamentado com flores, anunciado por campainhas, a todas as casas que o queiram receber, abrindo a porta e colocando no chão um pequeno “tapete” com algumas folhas e flores. A tradição tem muitas variantes, a começar pelas roupas. Aqui no topo Norte da Diocese do Porto usamos umas capas vermelhas a que chamamos “opas”, noutras zonas usam vestes brancas ou apenas uma faixa.
Quando eu tinha 10 anos, o meu pai foi o “Juiz da Cruz” que tinha a responsabilidade de organizar o compasso e dar o almoço aos participantes e eu fui pela primeira vez no compasso, a tocar a campainha. Nos anos seguintes raramente voltei a participar no compasso porque me competia ficar na vacaria a “segurar as pontas” enquanto o meu pai participava e depois ajudar a minha mãe a preparar a mesa com um pequeno lanche para a comitiva do compasso. Só nos últimos anos voltei a participar no compasso de forma ativa.
Para um agricultor e criador de animais, participar nestas atividades pode ser difícil ou quase impossível. O trabalho nos campos ainda pode esperar, mas é preciso assegurar a ordenha, a alimentação e providenciar os cuidados necessários.
Apesar disso, através das fotos publicadas nas redes sociais, vi com satisfação que muitos colegas agricultores participaram ativamente nesta tradição pascal. Para isso certamente adiantaram o trabalho possível, levantaram-se mais cedo, organizaram as coisas e deixaram algum trabalho para depois.
Regra geral, os agricultores trabalham a terra que herdaram dos pais, a terra onde viveram os seus pais e avós e são, portanto, gente da terra e das terras, gente que conhece e mantém viva as tradições. Por isso as tradições precisam dos agricultores e os agricultores, mesmo que tenham de fazer um esforço extra, também precisam de participar nas tradições, integrar-se na comunidade e manter vivas estes momentos de festa, de encontro, de partilha, de esperança, de contacto direto com as pessoas.
Votos de uma Páscoa feliz e bom descanso para quem “andou” no compasso!
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.