No âmbito da Semana Europeia da Prevenção de Resíduos (que se assinala de 16 a 24 de novembro), cujo tema este ano é o desperdício alimentar, a ZERO anuncia o lançamento do projeto LIFE Food Connect (LIFE23-TAR-CY-Food Connect/101148772), financiado pela União Europeia, conjuntamente com os restantes parceiros de Chipre, Malta e Portugal. O projeto, com uma duração prevista de 30 meses e centrado no combate ao desperdício alimentar, tem como objetivo a criação de uma plataforma (quer em versão online, quer app) que funcione como um marketplace de referência e que junte doadores e beneficiários de donativos alimentares para fins de ação social, evitando assim a deposição em aterro de toneladas de biorresíduos.
Com o intuito de quantificar o desperdício alimentar num contexto escolar que abrange um milhar de utentes (entre alunos, docentes e pessoal administrativo), a ZERO realizou uma caraterização dos resíduos(1) durante uma semana letiva na Centro de Educação e Desenvolvimento Pina Manique, pertencente à Casa Pia de Lisboa, a primeira escola a implementar a abordagem Zero Resíduos em Portugal.
Segundo dados do Eurostat de 2024, Portugal é o terceiro país da União Europeia com maior desperdício alimentar, só depois de Chipre e Dinamarca. Cada habitante de Portugal produz anualmente 184 kg de biorresíduos procedentes de desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia (produção primária, indústria alimentar, retalho, restauração e consumo nas famílias), estimando-se que o desperdício de alimentos nas casa atinja quase 68% do total, o que equivale a 1,3 milhões de toneladas por ano(2). Estes valores estão muito acima da média comunitária que é de 132 Kg/hab/ano. Neste contexto, é urgente agir no sentido de procurar soluções para esta situação.
Uma elevada taxa de desperdício alimentar combinada com uma gestão de biorresíduos ainda incipiente, leva a verdadeiro desperdício de recursos, com a sua deposição em aterro
O desperdício alimentar ao longo da cadeia transforma-se em vários tipos de resíduos, sendo os principais os biorresíduos (38%) e as embalagens, maioritariamente de plástico e metal, que representam as 2 maiores frações dos resíduos urbanos(3). Os dados referentes a 2023 mostram que o tratamento destas frações está longe do ideal, sofrendo uma clara estagnação da valorização orgânica e material, enquanto a deposição em aterro, cuja capacidade está cada vez mais reduzida, continua a aumentar.
Só na região de Lisboa, especificamente nos municípios da Valorsul, os biorresíduos constituem 41,8 % do total dos Resíduos Urbanos (RU), sendo apenas 3% recolhido seletivamente (27 685 toneladas, de um total de 341 500 toneladas) enquanto o resto está a ser incinerado ou depositado em aterro. O setor doméstico (habitações) contribui de forma marginal para a recolha seletiva dos biorresíduos. Os grandes produtores do canal HORECA, os retalhistas e as pequenas empresas da restauração são os que têm dado um contributo mais significativo para esta recolha. Contudo, há muitas instituições dos setores educativo e social (escolas, IPSS), com uma elevada produção de biorresíudos passíveis de reciclagem se bem geridos.
Atividade de caraterização dos resíduos urbanos(3) no Centro de Educação e Desenvolvimento Pina Manique (CED PM) realizou-se no dia 18/11 em parceria com a Casa Pia de Lisboa
No âmbito da semana Europeia da Prevenção de Resíduos e com o intuito de quantificar o desperdício alimentar com dados reais num centro educativo, a ZERO realizou, no dia 18 de novembro, uma atividade de caraterização dos resíduos urbanos no Centro de Educação e Desenvolvimento Pina Manique (CED PM), em parceria com a Casa Pia de Lisboa.
Além da análise pormenorizada dos resíduos indiferenciados, do ecoponto amarelo e do ecoponto azul para se perceber quais são as melhorias a implementar no futuro, foi estimada a componente de restos alimentares produzidos no espaço da instituição (resíduos derivados da confeção dos alimentos) e iremos pesar separadamente os restos alimentares RCM (restos de cozinha e mesa). Desta forma, será possível identificar a componente do desperdício alimentar.
A atividade, que contou com a participação da ZERO, professores e pessoal administrativo da Casa Pia de Lisboa, também contou com a presença de alunos, para envolver toda a comunidade escolar no processo de implementação de melhores práticas ambientais ao nível do centro educativo. Além da valência técnica da caracterização dos resíduos, a componente pedagógica será fundamental para promover um melhor desempenho ambiental, um maior envolvimento de todos os elementos da comunidade e da sociedade em geral.
Fonte: ZERO